Os Maias - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 207 / 630

- E esse Palma, acrescentou ele, é um traste! Eu conheço-o; ele teve uma espécie de jornal, e já lhe dei muita bofetada na rua do

Alecrim. Foi uma história curiosa... Ora eu t'a conto, Carlos... Aquele canalha! quando me lembro!... Aquela vil bolinha de matéria pútrida!... Aquele chouricinho de pus!

Levantou-se, passando a mão nervosa sobre os bigodes, já excitado pela lembrança daquela velha desordem, vergastando o

Palma com nomes ferozes, todo numa dessas fervuras de sangue que eram a sua desgraça.

Cruges, no entanto, encostado ao parapeito, olhava a grande planície de lavoura que se estendia em baixo, rica e bem trabalhada, repartida em quadrados verde-claros e verde-escuros, que lhe faziam lembrar um pano feito de remendos assim que ele tinha na mesa do seu quarto. Tiras brancas de estradas serpeavam pelo meio: aqui e além, numa massa de arvoredo, branquejava um casal: e a cada passo, naquele solo onde as águas abundam, uma fila de pequenos olmos revelava algum fresco ribeiro, correndo e reluzindo entre as ervas. O mar ficava ao fundo, numa linha unida, esbatida na tenuidade difusa da bruma azulada: e por cima arredondava-se um grande azul lustroso como um belo esmalte, tendo apenas, lá no alto, um farrapozinho de nevoa, que ficara ali esquecido, e que dormia enovelado e suspenso na luz...

- Tive nojo! exclamava o Alencar, rematando fogosamente a sua história. Palavra que tive nojo! Atirei-lhe a bengala aos pés, cruzei os braços e disse-lhe: aí tem você a bengala, seu covarde, a mim bastam-me as mãos!

- Que diabo, não me hão de esquecer as queijadas! murmurou Cruges, para si mesmo, afastando-se do parapeito.

Carlos erguera-se também, olhava o relógio. Mas antes de deixar Sitiais, Cruges quis explorar o outro terraço ao lado: e, apenas subira os dois velhos degraus de pedra, soltou de lá um grito alegre:

- Bem dizia eu! cá estão eles... E vocês a dizer que não!





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