Um dos homens pareceu adivinhar, exclamou logo, desbarretando-se.
- Sim, senhor, foram para lá há bocado, e aqui está o burrinho também para V. Ex.ª, meu amo!
Mas o outro, mais honesto, negou. Não senhor, a gente que fora para a Pena estava no Nunes...
- A família que o senhor diz foi agora ali para baixo, para o palácio...
- Uma senhora alta?
- Sim senhor.
- Com um sujeito de barba preta?
- Sim senhor.
- E uma cadelinha?
- Sim senhor.
- Tu conheces o Sr. Dâmaso Salcede?
- Não senhor... É o que tira retratos?
- Não, não tira retratos... Tomai lá.
Deu-lhes uma placa de cinco tostões; e voltou ao encontro dos outros, declarando que realmente era tarde para subirem à Pena.
- Agora o que tu deves ver, Cruges, é o palácio. Isso é que tem originalidade e cachet! Não é verdade, Alencar?...
- Eu vos digo, filhos, começou o autor de Elvira, historicamente falando...
- E eu tenho de comprar as queijadas, murmurou Cruges.
- Justamente! exclamou Carlos. Tens ainda as queijadas; é necessário não perder tempo; a caminho!
Deixou os outros ainda indecisos, abalou para o palácio, em quatro largas passadas estava lá. E logo da praça avistou, saindo já o portão, passando rente da sentinela, a famosa família hospedada na Lawrence e a sua cadelinha de luxo. Era, com efeito, um sujeito de barba preta, e de sapatos de lona branca; e, ao lado dele, uma matrona enorme, com um mantelete de seda, coisas de ouro pelo pescoço e pelo peito, e o cãozinho felpudo ao colo. Vinham ambos rosnando o quer que fosse, com mau modo um para o outro, e em espanhol.
Carlos ficou a olhar para aquele par com a melancolia de quem contempla os pedaços de um belo mármore quebrado. Não esperou mais pelos outros, nem os quis encontrar. Correu à Lawrence por um caminho diferente, avido de uma certeza: - e aí, o criado que lhe apareceu, disse-lhe que o Sr. Salcede e os Srs. Castro Gomes tinham partido na véspera para Mafra...
- E de lá?...
O criado ouvira dizer ao Sr. Dâmaso que de lá voltavam a Lisboa.