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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 214

Cruges concordou. Voltava do palácio com um ar murcho, fatigado daquele vasto casarão histórico, da voz monótona do cicerone mostrando a cama de S. M. El-Rei, as cortinas do quarto de S. M. a Rainha, «melhores que as de Mafra,» o tira-botas de S. A.; e trazia de lá uma pouca dessa melancolia que erra, como uma atmosfera própria, nas residências reais.

E aquela natureza de Sintra, ao escurecer, dizia ele, começava a entristecê-lo.

Então concordaram em jantar ali, na Lawrence, para evitar o espectáculo torpe do Palma e das damas, mandar vir à porta o break, e partir depois ao nascer do luar. Alencar, aproveitando a carruagem, recolhia também a Lisboa.

- E, para ser festa completa, exclamou ele, limpando os bigodes do cognac, enquanto vocês vão ao Nunes pagar a conta, e dar ordens para o break, eu vou-me entender la abaixo à cozinha com a velha Lawrence, e preparar-vos um bacalhau à Alencar, receita minha... E vocês verão o que é um bacalhau! Porque, lá isso, rapazes, versos os farão outros melhor; bacalhau, não!

Atravessando a praça, Cruges pedia a Deus que não encontrassem mais o Eusébiozinho. Mas, apenas puseram os pés nos primeiros degraus do Nunes, ouviram em cima o chalrar da sucia. Estavam na antessala, já todos reconciliados, a Concha contente – e instalados aos dois cantos de uma mesa, com cartas. O Palma, munido de uma garrafa de genebra, fazia uma batotinha para o Eusébio; e as duas espanholas, de cigarro na boca, jogavam languidamente a bisca.

O viúvo, enfiado, perdia. No monte, que começara miseravelmente com duas coroas, já luzia ouro; e Palma triunfava, chalaceando, dando beijocas na sua moça. Mas, ao mesmo tempo, fazia de cavalheiro, falava de dar a desforra, ficar ali, sendo necessário, até de madrugada.

- Então VV. Exas. não se tentam? Isto é para passar o tempo... Em Sintra tudo serve... Valete! Perdeu você outro mico no rei. Deve a libra mais quinze tostões, sô Silveira!

Carlos passara, sem responder, seguido pelo criado - no momento em que Euzebiosinho, furioso, já desconfiado, quis verificar, com as lunetas negras sobre o baralho, se lá estavam todos os reis.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 214

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605