Uma noite que o coronel Sequeira, à mesa do whist, contava que vira Maria Monforte e Pedro passeando a cavalo, «ambos muito bem e muito distintos», Afonso, depois de um silêncio, disse com um ar enfastiado:
- Enfim, todos os rapazes têm as suas amantes... Os costumes são assim, a vida é assim, e seria absurdo querer reprimir tais coisas. Mas essa mulher, com um pai desses, mesmo para amante acho má.
O Vilaça suspendeu o baralhar das cartas, e ajeitando os óculos de ouro exclamou com espanto:
- Amante! Mas a rapariga é solteira, meu senhor, é uma menina honesta!...
Afonso da Maia enchia o seu cachimbo; as mãos começaram a tremer-lhe; e voltando-se para o administrador, numa voz que tremia um pouco também:
- O Vilaça decerto não supõe que meu filho queira casar com essa criatura...
O outro emudeceu. E foi o Sequeira que murmurou:
- Isso não, está claro que não...
E o jogo continuou algum tempo em silêncio.
Mas Afonso da Maia principiou a andar descontente. Passavam-se semanas que Pedro não jantava em Benfica. De manhã, se o via, era um momento, quando ele descia ao almoço, já com uma luva calçada, apressado e radiante, gritando para dentro se estava selado o cavalo; depois, mesmo de pé, bebia um gole de chá, perguntava a correr «se o papá queria alguma cousa», dava um jeito ao bigode diante do grande espelho de Veneza sobre o fogão, e lá partia, enlevado. Outras vezes todo o dia não saía do quarto: a tarde descia, acendiam-se as luzes; até que o pai, inquieto, subia, ia encontrá-lo estirado sobre o leito, com a cabeça enterrada nos braços.
- Que tens tu? - perguntava-lhe.
- Enxaqueca, - respondia num tom surdo e rouco.
E Afonso descia indignado, vendo em toda aquela angústia covarde alguma carta que não viera, ou talvez uma rosa oferecida que não fora posta nos cabelos...