Os Maias - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 22 / 630

Uma noite que o coronel Sequeira, à mesa do whist, contava que vira Maria Monforte e Pedro passeando a cavalo, «ambos muito bem e muito distintos», Afonso, depois de um silêncio, disse com um ar enfastiado:

- Enfim, todos os rapazes têm as suas amantes... Os costumes são assim, a vida é assim, e seria absurdo querer reprimir tais coisas. Mas essa mulher, com um pai desses, mesmo para amante acho má.

O Vilaça suspendeu o baralhar das cartas, e ajeitando os óculos de ouro exclamou com espanto:

- Amante! Mas a rapariga é solteira, meu senhor, é uma menina honesta!...

Afonso da Maia enchia o seu cachimbo; as mãos começaram a tremer-lhe; e voltando-se para o administrador, numa voz que tremia um pouco também:

- O Vilaça decerto não supõe que meu filho queira casar com essa criatura...

O outro emudeceu. E foi o Sequeira que murmurou:

- Isso não, está claro que não...

E o jogo continuou algum tempo em silêncio.

Mas Afonso da Maia principiou a andar descontente. Passavam-se semanas que Pedro não jantava em Benfica. De manhã, se o via, era um momento, quando ele descia ao almoço, já com uma luva calçada, apressado e radiante, gritando para dentro se estava selado o cavalo; depois, mesmo de pé, bebia um gole de chá, perguntava a correr «se o papá queria alguma cousa», dava um jeito ao bigode diante do grande espelho de Veneza sobre o fogão, e lá partia, enlevado. Outras vezes todo o dia não saía do quarto: a tarde descia, acendiam-se as luzes; até que o pai, inquieto, subia, ia encontrá-lo estirado sobre o leito, com a cabeça enterrada nos braços.

- Que tens tu? - perguntava-lhe.

- Enxaqueca, - respondia num tom surdo e rouco.

E Afonso descia indignado, vendo em toda aquela angústia covarde alguma carta que não viera, ou talvez uma rosa oferecida que não fora posta nos cabelos...





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