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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 221

O Matos, aquele animal, só na véspera lhe dera o costume para o baile: e, qual é o seu horror, ao ver que lhe arranjara, em lugar de uma espada artística, um sabre da guarda municipal! Tivera vontade de lho passar através das entranhas. Correu ao tio Abraão, que só tinha espadins de corte, reles e pelintras como a própria corte! Lembrara-se do Craft e da sua colecção; vinha de lá; mas aí eram uns espadões de ferro, catanas pesando arrobas, as durindanas tremendas dos brutos que conquistaram a Índia... Nada que lhe servisse. Fora então que lhe tinham vindo à ideia as panóplias antigas do Ramalhete.

- Tu é que deves ter... Eu preciso uma espada longa e fina, com os copos em concha, de aço rendilhado, forrados de veludo escarlate. E sem cruz, sobretudo sem cruz!

Afonso, tomando logo um interesse paternal por aquela dificuldade do John, lembrou que havia no corredor, em cima, umas espadas espanholas...

- Em cima, no corredor? exclamou Ega, já com a mão no reposteiro.

Inútil precipitar-se, o bom John não as poderia encontrar. Não estavam à vista, arranjadas em panóplia, conservavam-se ainda nos caixões em que tinham vindo de Benfica.

- Eu lá vou, homem fatal, eu lá vou, disse Carlos, erguendo-se com resignação. Mas olha que elas não têm bainhas.

Ega ficou sucumbido. E foi ainda Afonso que achou uma ideia, o salvou.

- Manda fazer uma simples bainha de veludo negro; isso faz-se numa hora. E manda-lhe cozer ao comprido rodelas de veludo escarlate...

- Esplêndido, gritou Ega: o que é ter gosto!

E apenas Carlos saiu, trovejou contra o Matos.

- Veja v. Ex.ª isto, um sabre da guarda municipal! E é quem faz aí os fatos para todos os teatros! Que idiota!... E é tudo assim, isto é um país insensato!...

- Meu bom Ega, tu não queres tornar decerto Portugal inteiro, o Estado, sete milhões de almas, responsáveis por esse comportamento do Matos?

- Sim senhor, exclamava o Ega passeando pelo gabinete, com as mãos enterradas nos bolsos do paletó; sim senhor, tudo isso se prende.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 221

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605