Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: Capítulo 9

Página 220

Carlos encolheu os ombros:

- Se é que se pode chamar a isto trabalhar... Olhe aí para o chão. Veja esses destroços... Em quanto se trata de tomar notas, coligir documentos, reunir materiais, bem, lá vou indo. Mas quando se trata de pôr as ideias, a observação, numa forma de gosto e de simetria, dar-lhe cor, dar-lhe relevo, então... Então foi-se!

- Preocupação peninsular, filho, disse Afonso, sentando-se ao pé da mesa, com o seu chapéu desabado na mão. Desembaraça-te dela. É o que eu dizia noutro dia ao Craft, e ele concordava... O português nunca pode ser homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la incompleta, exagerá-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase.

- Questão de temperamento, disse Carlos. há seres inferiores, para quem a sonoridade de um adjectivo é mais importante que a exactidão de um sistema... Eu sou desses monstros.

- Diabo! então és um retórico...

- Quem o não é? E resta saber por fim se o estilo não é uma disciplina do pensamento. Em verso, o avô sabe, é muitas vezes a necessidade de uma rima que produz a originalidade de uma imagem... E quantas vezes o esforço para completar bem a cadência de uma frase, não poderá trazer desenvolvimentos novos e inesperados de uma ideia... Viva a bela frase!

- O Sr. Ega anunciou o Baptista, erguendo o reposteiro, quando começava justamente a tocar a sineta do almoço.

- Falai na frase... - disse Afonso, rindo.

- Hein? Que frase? O que?... - exclamou Ega, que rompeu pelo quarto, com o ar estonteado, a barba por fazer, a gola do paletó levantada. Oh! por aqui a esta hora Sr. Afonso da Maia! Como está V. Ex.ª? Diz-me cá, Carlos, tu é que me podes tirar de uma atrapalhação... Tu terás por acaso uma espada que me sirva?

E, como Carlos o olhava assombrado, acrescentou, já impaciente:

- Sim, homem, uma espada! Não é para me bater, estou em paz com toda a humanidade... É para esta noute, para o fato de máscara.

<< Página Anterior

pág. 220 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 220

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605