E Dâmaso, de chapéu na cabeça, agitava-se, exagerando a sua impaciência, a estalar de importância.
- Sempre a gente se vê em coisas!... Olha que responsabilidade a minha! Vou visitá-los, como costumo às vezes, de manhã... E vai, tinham partido para Queluz.
Carlos voltou-se, com a sobrecasaca meia vestida:
- Mas então?...
- Escuta, homem! Foram para Queluz, mas a pequena ficou com a governanta... Depois do almoço deu-lhe uma dor. A governante queria um médico inglês, porque não fala senão inglês... Do hotel foram procurar o Smith, que não apareceu... E a pequena a morrer!... Felizmente, cheguei eu, e lembrei-me logo de ti... Foi sorte encontrar-te, caramba!
E acrescentou, dando um olhar ao jardim:
- Também, irem a Queluz com um dia destes! Hão-de se divertir... Estás pronto, hein? Eu tenho lá em baixo o coupé... Deixa as luvas, vais muito bem sem luvas!
- O avô que não me espere para almoçar, gritou Carlos ao Baptista, já do fundo da escada.
Dentro do coupé, um ramo enorme enchia quase o assento.
- Era para ela, disse o Dâmaso, pondo-o sobre os joelhos. Pela-se por flores.
Apenas o coupé partiu, Carlos cerrando a vidraça, fez a pergunta que desde a aparição do Dâmaso lhe faiscava nos lábios.
- Mas então tu, que querias quebrar a cara a esse Castro Gomes?...
O Dâmaso contou logo tudo, triunfante. fora tudo um equivoco! Ah, as explicações do Castro Gomes tinham sido de um gentleman. Senão quebrava-lhe a cara. Isso não, desconsiderações, a ninguém! a ninguém! Mas fora assim: os bilhetes de visita que ele lhe deixara conservavam o seu endereço do Grand Hotel em Paris. E o Castro Gomes, supondo que ele vivia lá, obedecendo à indicação, mandara para lá os seus cartões! Curioso, hein? E de estúpido... E a falta de resposta aos telegramas fora culpa de Madame, descuido, naquele momento de aflição, vendo o marido com o braço escavacado... Ah, tinham-lhe dado satisfações humildes. E agora eram íntimos, estava lá quase sempre...
- Enfim, menino, um romance... Mas isso é para mais tarde!