- Não tem nada. Tem uns lindos olhos... E um nome extraordinário.
- Ah, Rosicler, murmurou Dâmaso, agarrando o chapéu com mau modo; muito ridículo, não é verdade?
A criada francesa apareceu outra vez a abrir a porta da sala, - dardejando para Carlos o mesmo olhar quente e vivo. Dâmaso recomendou-lhe muito que dissesse aos senhores, que ele tinha vindo logo com o médico; e que havia de voltar à noite para lhes fazer uma surpresa, e para saber se tinham gostado de Queluz - si ils avaient aimè Queluz.
Depois, ao passar diante do escritório, meteu a cabeça, para dizer ao guarda-livros, que a menina estava boa, tudo ficava em sossego.
O guarda-livros sorrio e cortejou.
- Queres que te vá levar a casa? perguntou ele a Carlos, em baixo, abrindo a porta do coupé, ainda com um resto de mau humor.
Carlos preferia ir a pé.
- E acompanha-me tu um bocado, Dâmaso, tu agora não tens que fazer.
Dâmaso hesitou, olhando o céu áspero, as nuvens pesadas de chuva. Mas Carlos tomara-lhe o braço, arrastava-o, amável e gracejando.
- Agora que te tenho aqui, velhaco, homem fatal, quero o romance... Tu disseste que tinhas um romance. Não te largo. És meu. Venha o romance. Eu sei que os tens sempre bons. Quero o romance!
Pouco a pouco Dâmaso sorria, as bochechas esbraseavam-se-lhe de satisfação.
- Vai-se fazendo pela vida, disse ele a estoirar de jactância.
- Vocês estiveram em Sintra?...
- Estivemos, mas isso não foi divertido... O romance é outro!
Desprendeu-se do braço de Carlos, fez um sinal ao cocheiro para que os seguisse, e regalou-se pelo Aterro fora de contar o seu romance.
- A coisa é esta... O marido daqui a dias vai para o Brasil, tem lá negócios. E ela fica! Fica com as criadas e com a pequena, à espera, dois ou três meses. Diz que já andaram até a ver casas mobiladas, que ela não quer estar no hotel... E eu, íntimo, a única pessoa que ela conhece, metido de dentro... Hein, percebes agora?