- Perfeitamente, disse Carlos, arrojando para longe o charuto, com um gesto nervoso. E decerto, a pobre criatura já está fascinada! Já lhe deste, como costumas, um beijo ardente entre duas portas! Já a desgraçada se surtiu da caixa de fósforos, para mais tarde quando a abandonares!
Dâmaso enfiava.
- Não venhas já tu com o espírito e com a chufasinha... Não lhe dei beijos que ainda não houve ocasião... Mas, o que te posso dizer, é que tenho mulher!
- Pois já era tempo, exclamou Carlos, sem conter um gesto brusco, e atirando-lhe as palavras como chicotadas. Já era tempo! Andavas aí metido com umas criaturas ignóbeis, uma ralé de lupanar... Enfim, agora há progresso. E eu gosto que os meus amigos vivam numa ordem de sentimentos decentes... Mas vê lá... Não sejas o costumado Dâmaso! Não te vás pôr a alardear isso pelo Grémio e pela casa Havanesa!
Desta vez Dâmaso estacou, sufocado, sem compreender aquele modo, semelhante azedume. E terminou por balbuciar, lívido:
- Tu podes entender muito de medicina e de bric-à-brac, mas lá a respeito de mulheres, e da maneira de fazer as coisas, não me dás lições...
Carlos olhou-o, com um desejo brutal de o espancar. E de repente, sentiu-o tão inofensivo, tão insignificante, com o seu ar bochechudo, e mole, que se envergonhou do surdo despeito que o atravessara, tomou-lhe o braço, teve duas palavras amáveis.
- Dâmaso, tu não me compreendeste. Eu não te quis fazer zangar... É para teu bem... O que eu receava é que tu, imprudente, arrebatado, apaixonado, fosses perder essa bela aventura por uma indiscrição...
E o outro ficou logo contente, sorrindo já, abandonando-se ao braço do seu amigo, certo que o desejo do Maia era que ele tivesse uma amante chic. Não, ele não se tinha zangado, nunca se zangava com os íntimos... Compreendia bem que o que Carlos dizia era por amizade...
- Mas tu, às vezes, tens essa coisa que te pegou o Ega, gostas do teu bocadinho de espírito...