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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 232
Ao lado do alto espelho-psiché alastrava-se, em cima de uma poltrona, o dominó de já cetim negro com um grande laço azul-claro.

Baptista, com a casaca na mão, esperava que Carlos acabasse a chávena de chá preto que ele estava bebendo aos golos, de pé, em mangas de camisa, e de gravata branca.

De repente, o timbre eléctrico da porta particular retiniu, apressado e violento.

- Talvez outra surpresa, murmurou Carlos, hoje é o dia das surpresas...

Baptista sorriu, ia pousar a casaca para abrir - quando em baixo vibrou outro repique brutal, de uma impaciência frenética.

Então Carlos, curioso, saiu à antecâmara: e aí, à meia luz das lâmpadas Carcel, ainda quebrantada pelo tom dos veludos cor de cereja, viu, ao abrir-se a porta por onde entrou um sopro áspero da noite, aparecer vivamente uma forma esguia e vermelha, com um confuso tinir de ferro. Depois, pela escada acima, duas penas negras de galo ondearam, um manto escarlate esvoaçou - e o Ega estava diante dele, caracterizado, vestido de Mefistófeles!

Carlos apenas pôde dizer bravo - o aspecto do Ega emudeceu-o. Apesar dos toques de caracterização que quase o mascaravam, sobrancelhas de diabo, guias de bigode ferozmente exageradas - sentia-se bem a aflição em que vinha, com os olhos injectados, perdido, numa terrível palidez. Fez um gesto a Carlos, arremessou-se pelo gabinete dentro. Baptista, logo, discretamente, retirou-se cerrando o reposteiro.

Estavam sós. Então Ega, apertando desesperadamente as mãos, numa voz rouca e de agonia:

- Tu sabes o que me sucedeu, Carlos?

Mas não pôde dizer mais, sufocado, tremendo todo; e diante dele, devorando-o com os olhos, Carlos tremia também, enfiado.

- Cheguei a casa dos Cohens, continuou Ega por fim com esforço e quase balbuciando, mais cedo, como tínhamos combinado. Ao entrar na sala, já estavam duas ou três pessoas... Ele vem direito a mim, e diz-me: «Você, seu infame, ponha-se já no meio da rua... Já no meio da rua senão, diante desta gente, corro-o a pontapés!» E eu, Carlos...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 232

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605