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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 231

E então tranquilizou-o. Não, por imprudência não havia ele de «perder a cousa». Aquilo ia com todas as regras. Lá nisso sobrava-lhe experiência. A Melanie já a tinha na mão; já lhe dera duas libras.

- Isto de mais a mais é uma coisa muito seria... Ela conhece meu tio, é íntima dele desde pequena, tratam-se até por tu...

- Que tio?

- Meu tio Joaquim... Meu tio Joaquim Guimarães. Mr. de Guimaran, o que vive em Paris, o amigo de Gambeta...

- Ah sim, o comunista...

- Qual comunista, até tem carruagem!

Subitamente lembrou-lhe outra coisa, um ponto de toilete em que queria consultar Carlos.

- Amanhã vou jantar com eles, e vão também dois brasileiros, amigos dele, que chegaram aí há dias, e que partem pelo mesmo paquete... Um é chic, é da Legação do Brasil em Londres. De maneira que é jantar de cerimónia. O Castro Gomes não me disse nada; mas que te parece, achas que vá de casaca?...

- Sim, atira-lhe casaca, e uma boa rosa na lapela.

O Dâmaso olhou-o, pensativo.

- A mim tinha-me lembrado o hábito de Cristo.

- O hábito de Cristo... Sim, põe o hábito de Cristo ao pescoço, e põe a rosa na botoeira.

- Será talvez de mais, Carlos!

- Não, fica bem ao teu tipo.

Dâmaso fizera parar o coupé que os tinha seguido a passo. E no último aperto de mão a Carlos:

- Tu sempre vais à noite, aos Cohens, de dominó? O meu fato de selvagem ficou divino. Eu venho mostrá-lo à noite à brasileira... Entro no Hotel embrulhado num capote, e apareço-lhes de repente na sala, de selvagem, de Nelusko, a cantar:

Alerta, marinari,

Il vento cangia...

Chic a valer!... Good bye!

Às dez horas Carlos vestia-se para o baile dos Cohens. Fora, a noite fizera-se tenebrosa, com lufadas de vento, pancadas de água, que a cada instante batiam agrestemente o jardim. Ali, no gabinete de toilete, errava no ar tépido um vago aroma de sabonete e de bom charuto. Sobre duas cómodas de pau-preto, marchetadas a marfim, duas serpentinas de velho bronze erguiam os seus molhos de velas acesas, pondo largos reflexos doces sobre a seda castanha das paredes.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 231

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605