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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 248

- É brilhante! Parece de Scribe.

- Então, disse Carlos sorrindo, essa respeitável fidalga...

- A D. Maria, coitada... Eu te digo, é uma excelente velha, recebida em toda a parte, mas pobre, e faz destes favores... Às vezes mesmo em casa dela.

- Leva caro por esses serviços? perguntou tranquilamente Craft, que em todo aquele caso procurava instruir-se.

- Não, coitada, disse o Ega. Dão-se-lhe de vez em quando cinco libras.

O criado entrava com uma travessa de camarões, os três em silêncio acomodaram-se à mesa.

Depois do jantar recolheram ao Ramalhete. Ega ia lá dormir, receando, com os nervos tão excitados, a solidão da vila Balzac. Partiram, de charutos acesos, numa caleche descoberta, sob a noite estrelada e doce.

Felizmente não estava ninguém no Ramalhete; Ega, cansado, pôde retirar-se logo para o seu quarto, um aposento de hóspedes no segundo andar, onde havia um belo leito antigo de pau-preto. Aí, apenas o criado o deixou, Ega aproximou-se do tremó onde ardiam as luzes, e tirou do pescoço, de sob a camisa, um medalhão de ouro. Tinha dentro uma fotografia de Rachel: - e a sua intenção agora era queimá-la, deitar ao balde das águas sujas as cinzas daquela paixão. Mas, ao abrir o medalhão, a face bonita, banhada num sorriso, sob o vidro oval, pareceu olhar para ele com uma tristeza no veludo das pupilas languidas... A fotografia mostrava apenas a cabeça, com uma abertura de decote no começo do vestido: e as recordações de Ega alargaram aquele decote uma vez mais, revendo o colo, o extraordinário cetim da pele, o sinalzinho sobre o seio esquerdo... O sabor dos seus beijos passou-lhe de novo nos lábios, sentiu na alma outra vez como o eco dos suspiros cansados que ela soltara nos seus braços. E ela ia-se embora, nunca mais a veria! Esta desolada amargura do nunca mais revolveu-o todo - e com a face enterrada no travesseiro, o pobre demagogo, o grande fraseador soluçou muito tempo no segredo da noite.

Toda essa semana foi dolorosa para o Ega. Logo ao outro dia Dâmaso aparecera no Ramalhete, e por ele ouviram os rumores de Lisboa.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 248

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605