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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 262
Que vida adorável! Ambos sós!... E isto era claro – a condessa concebera a ideia extravagante de fugir com ele, ir viver num sonho eterno de amor lírico, nalgum canto do mundo, o mais longe possível da rua de S. Marçal! Se tu quisesses! Não, com mil demónios, não queria fugir com a Sr.ª condessa de Gouvarinho!...

E não era só isto - mas ainda exigências, egoísmos, explosões tumultuosas de um temperamento cioso: já mais de uma vez, nessas duas curtas semanas, por pieguices, ela despropositara, falara de morrer, debulhada em lágrimas... Ah! Nas lágrimas havia ainda uma voluptuosidade, faziam parecer mais tenro o cetim do seu colo! O que o inquietava eram certos clarões que lhe sulcavam o rosto, um dardejar nervoso dos olhos secos, revelando a paixão que se acendera naqueles nervos de mulher de trinta e três anos, e a queimava até às profundidades do seu ser... Certamente este amor punha na sua vida um luxo mais, e um perfume. Mas o seu encanto estava em conservar-se fácil, sereno, sem penetrar mais fundo que a epiderme. Se ela, por qualquer coisa, tinha os olhos turvos de água, e falava em morrer, e torcia os braços, e queria fugir com ele - então adeus! Tudo estava estragado; e a Sr.ª condessa com a sua verbena, os seus cabelos cor de brasa, e o seu pranto, era apenas um trambolho!

O chuveiro parara, um bocado de azul lavado apareceu entre nuvens. E Carlos descia a rua de S. Roque - quando encontrou o marquês, saindo de uma confeitaria, tristonho, com um embrulho na mão, e o pescoço abafado num enorme cachenés de seda branca.

- Que é isso? Constipação? perguntou Carlos.

- Tudo, disse o marquês, pondo-se a caminhar ao lado dele com uma lentidão de moribundo. Deitei-me tarde. Cansaço.

Opressão no peito. Pigarreira. Dores no lado. Um horror... Levo já aqui rebuçados.

- Não seja piegas, homem! Você o que precisa é roast-beef e uma garrafa de Borgonha... Não é hoje que você janta lá no Ramalhete?... É, até tem lá o Craft e o Dâmaso... Então descemos por essa rua do Alecrim, que já não chove, depois pelo Aterro fora, a passo ginástico, e em chegando lá você está curado.

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pág. 262 (Capítulo 10)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 262

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605