Os Maias - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 279 / 630

E quando Carlos se ergueu para ir procurar o Dâmaso, Alencar, muito animado com a espanhola, falava de Sevilha, de malagueñas e do coração d'Espronceda.

O desejo de Carlos agora era achar Dâmaso, saber porque falhara a visita aos Olivais - e depois ir-se embora para o Ramalhete, esconder aquela melancolia que o enevoava, estranha e pueril, misturada de irritabilidade, fazendo-lhe detestar as vozes que lhe falavam, os rantatans da música, até a beleza calma da tarde... Mas ao dobrar a esquina da tribuna, topou com Craft, que o deteve, o apresentou a um rapaz louro e forte com quem estava falando alegremente. Era o famoso Cliford, o grande sportman de Cordova. Em redor sujeitos tinham parado, embasbacados para aquele inglês legendário em Lisboa, dono de cavalos de corridas, amigo do Rei de Espanha, homem de todos os chics. Ele, muito à vontade, um pouco poseur, com um simples veston de flanela azul como no campo, ria alto com o Craft do tempo em que tinham estado no colégio de Rugby. Depois pareceu-lhe reconhecer Carlos, amavelmente. Não se tinham encontrado havia quase um ano, em Madrid, num jantar, em casa de Pancho Calderon? E assim era. O aperto de mão que repetiram foi mais íntimo - e Craft quis que fossem regar aquela flor de amizade com uma garrafa de mau Champagne. Em roda crescera a pasmaceira.

O bufete estava instalado debaixo da tribuna, sob o tabuado nu, sem sobrado, sem um ornato, sem uma flor. Ao fundo corria uma prateleira de taberna com garrafas e pratos de bolos. E, no balcão tosco, dois criados, estonteados e sujos, achatavam à pressa as fatias de sanduiches com as mãos húmidas da espuma da cerveja.

Quando Carlos e os seus amigos entraram, havia junto de um dos barrotes que especavam os degraus da tribuna, num grupo animado, com copos de champagne na mão, o marquês, o visconde de Darque, o Taveira, um rapaz pálido de barba preta, que tinha debaixo do braço enrolada a bandeira vermelha de Starter, e o comissário imberbe, com o chapéu branco cada vez mais atirado para a nuca, a face mais esbraseada, o colarinho já mole de suor.





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