Os Maias - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 287 / 630

Como queria ela, numa linha de caminho-de-ferro em que se encontra constantemente gente conhecida, apear-se com ele na estação de Santarém, dar-lhe o braço, maritalmente, e enfiarem para uma estalagem? Ela, porém, pensara em todos os detalhes. Ninguém a conheceria, disfarçada num grande water-proof, e com uma cabeleira postiça.

- Com uma cabeleira!?

- O Gastão! murmurou ela de repente.

Era o conde, por traz dele, abraçando-o ternamente pela cintura. E quis logo saber a opinião do amigo Maia sobre as corridas.

Bastante animação, não é verdade? E bonitas toiletes, certo ar de luxo... Enfim, não envergonhavam. E aí estava provado o que ele sempre dissera, que todos os requintes da civilização se aclimatavam bem em Portugal...

- O nosso solo moral, Maia, como o nosso solo físico, é um solo abençoado!

A condessa voltara para o pé de D. Maria. E Teles da Gama, passando de novo, naquela faina ruidosa em que o trazia a formação da sua poule, chamou Carlos para a tribuna, para ele tirar o seu bilhete, e apostar com as senhoras...

- Oh Gouvarinho! venha também daí, homem! exclamou ele. Que diabo! É necessário animar isto, é até patriótico.

E o conde condescendeu, por patriotismo.

- É bom, dizia ele, travando do braço de Carlos, fomentar os divertimentos elegantes. Já uma vez o disse na câmara: o luxo é conservador.

Em cima, a um canto, num grupo de senhoras, foram com efeito encontrar uma animação - que quase fazia escândalo naquela tribuna silenciosa e à espera do Senhor dos Passos. A viscondessa de Alvim dobrava atarefadamente os bilhetes da poule: uma secretariazinha da Rússia, de bonitos olhos garços, apostava desesperadamente placas de cinco tostões, estonteada, já embrulhada, rabiscando com frenesim o seu programa. A Pinheiro, a mais magra, com um vestido leve de raminhos Pompadour que lhe fazia covas nas clavículas, dava opiniões pretensiosas sobre os cavalos, em inglês: enquanto o Taveira, de olhos húmidos no meio de todas aquelas saias, falava de arruinar as senhoras, de viver à custa das senhoras...





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