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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 297
E, quando Carlos enfim abalou, o recinto, esquecidas as corridas, tomava um tom de soirée, no ar claro e fresco da colina, com o murmúrio de vozes, um mover de leques, e ao fundo a música tocando uma valsa de Strauss.

Carlos, depois de procurar muito Craft, encontrou-o no bufete com o Darque, com outros, bebendo mais champagne.

- Eu tenho de ir ainda a Lisboa, disse-lhe ele, e vou no fáeton. Abandono torpemente. Você vá para o Ramalhete como poder...

- Eu o levo! gritou logo o Vargas, que tinha já a gravata toda desmanchada. Levo-o no dog-cart. Eu me encarrego dele... O Craft fica por minha conta... É necessário recibo? à saúde do Craft, inglês cá dos meus... Hurrah!

- Hurra! Hip, hip, hurra!

Daí a pouco, a trote largo no fáeton, Carlos descia o Chiado, dava a volta para a rua de S. Francisco. Ia numa perturbação deliciosa e singular, com aquela certeza de que ela estava só na casa do Cruges: o último olhar que ela lhe dera parecia ir adiante dele, chamando-o: e um despertar tumultuoso de esperanças sem nome atirava-lhe a alma para o azul.

Quando parou diante do portão - alguém, por dentro das janelas dela, ia correndo lentamente os estores. Na rua silenciosa caía já uma sombra de crepúsculo. Atirou as rédeas ao cocheiro, atravessou o pátio. Nunca viera visitar o Cruges, nunca subira esta escada; e pareceu-lhe horrorosa, com os seus frios degrau de pedra, sem tapete, as paredes nuas e enxovalhadas alvejando tristemente no começo de escuridão. No patamar do primeiro andar parou. Era ali que ela vivia. E ficou olhando, com uma devoção ingénua, para as três portas pintadas de azul: a do centro estava inutilizada por um banco comprido de palhinha, e na do lado direito pendia, com uma enorme bola, o cordão da campainha. De dentro não vinha um rumor: - e este pesado silêncio, juntando-se ao movimento de estores que ele vira fechar-se, parecia cercar as pessoas que ali viviam de solidão e de impenetrabilidade. Uma desconsolação passou-lhe na alma. Se ela agora, só, sem o marido, começasse uma vida reclusa e solitária?

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 297

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605