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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 313
E era no comboio dessa noite, daí a horas, que deviam ambos partir para Santarém, a amarem-se, escondidos numa estalagem! Ele prometera-lho, a sério; já ela se preparara decerto, com a atroz cabeleira postiça, com o water-proof de grande roda; tudo estava all right... Achou-a nesse instante ridícula, reles, estúpida... Oh, era claro como a luz que não ia, que nunca iria, jamais! Mas tinha d'aparecer na estação de Santa Apolónia, balbuciar uma desculpa tosca, assistir à sua desconsolação, ver-lhe os olhos marejados de lágrimas. Que maçada!... Teve-lhe ódio.

Quando chegou à mesa do almoço Craft e Afonso, já sentados, falavam justamente do Gouvarinho, e dos artigos que ele continuava gravemente a publicar no Jornal do Comercio.

- Que besta essa! exclamou Carlos numa voz que sibilava, desabafando sobre a literatura política do marido a cólera que lhe davam as importunidades amorosas da mulher.

Afonso e Craft olharam-no, pasmados de tanta violência. E Craft censurou-lhe a ingratidão. Porque, realmente, não havia em toda a terra um entusiasmo como o que aquele desventuroso homem de Estado tinha por Carlos...

- V. Ex.ª não faz ideia, Sr. Afonso da Maia. É um culto. É uma idolatria!

Carlos encolhia os ombros, impaciente. E Afonso, já bem-disposto para com o homem que assim admirava tão prodigamente o seu neto, murmurou com bondade:

- Coitado, suponho que é inofensivo...

Craft fez uma ovação ao velho:

- Inofensivo! Admirável, Sr. Afonso da Maia! Inofensivo, aplicado a um homem de Estado, a um par, a um ministro, a um legislador, é um achado! E é com efeito o que ele é, inofensivo... E é o que eles são...

- Chablis? murmurou o escudeiro.

- Não, tomo chá.

E acrescentou:

- Aquele champagne que ontem bebemos nas corridas, por patriotismo, arrasou-me... Tenho de me pôr uma semana a regímen de leite.

Então falou-se ainda das corridas, dos ganhos de Carlos, do Cliford, e do véu azul do Dâmaso.

- Ora quem estava ontem muito bem vestida era a Gouvarinbo, disse Craft remexendo o seu chá. Ficava-lhe admiravelmente aquele branco creme, tocado de tons negros.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 313

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605