Os Maias - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 316 / 630

Que tenho andado com uma sorte para mulheres, menino!... Uma sorte danada!

Uma sineta badalou. Dâmaso deu logo um abraço terno a Carlos, saltou para o seu wagon, enterrou na cabeça um barretinho de seda - e depois debruçado da portinhola continuou ainda as confidencias. O que mais o contrariava era deixar aquele arranjinho da rua de S. Francisco. Que ferro! agora que aquilo ia tão bem, o gajo no Brasil, e ela ali, à mão, a dois passos do Grémio!...

Carlos mal o escutava, distraído, olhando o grande relógio transparente. De repente Dâmaso, à portinhola, deu um salto de surpresa:

- Olha os Gouvarinhos!

Carlos deu um salto também. O conde, de coco de viagem, de paletó alvadio, sem se apressar, como competia a um director da Companhia, vinha conversando com um empregado superior da estação, agaloado de ouro, que se encarregara da chapeleira de papelão de s. Ex.ª E a condessa, com um rico guarda-pó de foulard cor de castanho, um véu cinzento que lhe cobria a face e o chapéu, seguia atrás, com a criada escocesa, trazendo na mão um ramo de rosas.

Carlos correu para eles, foi todo um assombro.

- Por aqui, Maia?

- De viagem, conde?

É verdade. Decidira acompanhar a condessa ao Porto, aos anos do papá... Resolução da última hora, quase iam perdendo o comboio.

- Então temo-lo por companheiro, Maia? Teremos esse grande prazer, Maia?

Carlos contou rapidamente que viera apenas apertar a mão ao pobre Dâmaso, de jornada para Penafiel, por causa da morte do tio.

Debruçado da portinhola, com as mãos de fora calçadas de negro, o pobre Dâmaso estava saudando a senhora condessa, gravemente, funebremente. E o bom Gouvarinho não quis deixar de lhe ir dar logo o seu shake-hands e o seu pêsame.

Sozinho nesse curto instante com a condessa, Carlos murmurou apenas:

- Que ferro!

- Este maldito homem! exclamou ela, entre dentes, com um olhar que fuzilou através do véu. Tudo tão bem arranjado, e à última hora teima em vir!...





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