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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 318
Decerto; a doença em casa forçava-a a lembrar as horas do remédio, as explicações que ele dera, e o som da sua voz; e falando com miss Sarah pronunciaria decerto o seu nome. Duas vezes percorreu a rua de S. Francisco; e recolheu para casa, sob a noite estrelada, devagar, ruminando a doçura daquele grande amor.

Então todos os dias, durante semanas, teve essa hora deliciosa, esplêndida, perfeita, «a visita à inglesa».

Saltava do leito, cantando como um canário, e penetrava no seu dia como numa acção triunfal. O correio chegava; e invariavelmente lhe trazia uma carta da Gouvarinho, três folhas de papel de onde caía sempre alguma pequena flor meio murcha. Ele deixava ficar a flor no tapete: e mal podia dizer o que havia naquelas longas linhas cruzadas. Sabia apenas vagamente que, três dias depois dela chegar ao Porto, o pai, o velho Thompson, tivera uma apoplexia. Ela lá estava, de enfermeira. Depois, levando duas ou três belas flores do jardim embrulhadas num papel de seda, partia para a rua de S. Francisco, sempre no seu coupé - porque o tempo mudara, e os dias seguiam-se, tristonhos, cheios de sudoeste e de chuva.

Á porta o Domingos acolhia-o com um sorriso cada vez mais enternecido. Niniche corria de dentro, a pular de amizade; ele erguia-a nos braços para a beijar. Esperava um instante na sala, de pé, saudando com o olhar os móveis, os ramos, a clara ordem das coisas; ia examinar no piano a música que ela tocara essa manhã, ou o livro que deixara interrompido, com a faca de marfim entre as folhas.

Ela entrava. O seu sorriso ao dar-lhe os bons dias, a sua voz de ouro tinham cada dia para Carlos um encanto novo e mais penetrante. Trazia ordinariamente um vestido escuro e simples: apenas às vezes uma gravata de rica renda antiga, ou um cinto cuja fivela era cravejada de pedras, avivavam este traje sóbrio, quase severo, que parecia a Carlos o mais belo, e como uma expressão do seu espírito.

Começavam por falar de miss Sarah, daquele tempo agreste e húmido que lhe era tão desfavorável.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 318

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605