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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 321
É necessário arranjar-se outra sociedade, e depressa, em que não haja miséria. Em Londres, as vezes, por aquelas grandes neves, há criancinhas pelos portais a tiritar, a gemer de fome... É um horror! E em Paris então! É que se não vê senão o boulevard; mas quanta pobreza, quanta necessidade...

Os seus belos olhos quase se enchiam de lágrimas. E cada uma destas palavras trazia todas as complexas bondades da sua alma - como num só sopro podem vir todos os aromas esparsos de um jardim.

Foi um encanto para Carlos quando Maria o associou às suas caridades, pedindo-lhe para ir ver a irmã da sua engomadeira que tinha reumatismo, e o filho da Sr.ª Augusta, a velha do patamar, que estava tisico. Carlos cumpria esses encargos com o fervor de acções religiosas. E nestas piedades achava-lhe semelhanças com o avô. Como Afonso, todo o sofrimento dos animais a consternava. Um dia viera indignada da Praça da Figueira, quase com ideias de vingança, por ter visto nas tendas dos galinheiros aves e coelhos apinhados em cestos, sofrendo durante dias as torturas da imobilidade e a ansiedade da fome. Carlos levava estas belas cóleras para o Ramalhete, increpava violentamente o marquês, que era membro da Sociedade protectora dos animais. O marquês, indignado também, jurava justiça, falava em cadeias, em costa de África... E Carlos, comovido, ficava a pensar quanta larga e distante influência pode ter, mesmo isolado de tudo, um coração que é justo.

Uma tarde falaram do Dâmaso. Ela achava-o insuportável, com a sua petulância, os olhos bugalhudos, as perguntas néscias. V. Ex.ª acha Nice elegante? V. Ex.ª prefere a capela de S. João Baptista a Notre-Dame?...

- E então a insistência de falar de pessoas que eu não conheço! A Sr.ª condessa de Gouvarinho, e os chás da Sr.ª condessa de Gouvarinho, e a frisa da Sr.ª condessa de Gouvarinho, e a preferência que a Sr.ª condessa de Gouvarinho tem por ele...! E isto horas! Eu às vezes tinha medo de adormecer...

Carlos fez-se escarlate. Porque trouxera ela, entre todos, o nome da Gouvarinho? Tranquilizou-se, vendo-a rir simples e limpidamente. Decerto não sabia quem era Gouvarinho.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 321

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605