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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 329
A suposição era insensata, talvez - mas reteve-o no pátio, aplicando o ouvido para cima, com ideias ferozes de esperar ali o Dâmaso, proibir-lhe de tornar a subir aquela escada, e, à menor reflexão dele, esmagar-lhe o crânio nas lajes...

Mas sentiu em cima a porta abrir-se, e saiu vivamente, no receio de ser assim surpreendido à escuta. O coupé do Dâmaso estacionava na rua. Então veio-lhe uma curiosidade mordente de saber quanto tempo ele ficaria ali com Maria Eduarda. Correu ao Grémio; e apenas abrira uma vidraça - viu logo o Dâmaso sair do portão, saltar para o coupé, bater com forca a portinhola. Pareceu-lhe que trazia o ar escorraçado, e subitamente teve dó daquele grotesco...

Nessa noite, depois de jantar, Carlos só no seu quarto fumava, enterrado numa poltrona, relendo uma carta do Ega recebida nessa manhã, - quando apareceu o Dâmaso. E, sem pousar mesmo o chapéu, logo da porta, exclamou, com o mesmo espanto da manhã:

- Então diz-me cá! Como diabo te vou eu encontrar hoje com a brasileira?... Como a conheceste tu? Como foi isso?

Sem mover a cabeça do espaldar da poltrona, cruzando as mãos sobre os joelhos em cima da carta do Ega, Carlos, agora cheio de bom humor, disse, com uma doce repreensão paternal:

- Pois então tu vais expor a uma senhora as tuas opiniões lubricas sobre as lavradeiras de Penafiel!

- Não se trata disso, sei muito bem o que hei de expor! exclamou o outro, vermelho. Conta lá, anda... Que diabo! Parece-me que tenho direito a saber... Como a conheceste tu?

Carlos, imperturbável, cerrando os olhos como para se recordar, começou num tom lento e solene de recitativo:

- Por uma tépida tarde de primavera, quando o sol se afundava em nuvens d'oiro, um mensageiro esfalfado pendurava-se da campainha do Ramalhete. Via-se-lhe na mão uma carta, lacrada com selo heráldico; e a expressão do seu semblante...

Dâmaso, já zangado, atirou com o chapéu para cima da mesa.

- Parece-me que era mais decente deixar-te desses mistérios!

- Mistérios? Tu vens obtuso, Dâmaso.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 329

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605