Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 12: Capítulo 12

Página 339

Na sala de jantar, um pouco sombria, forrada de papel cor de vinho, escurecida ainda por dois antigos painéis de paisagem tristonha, a mesa oval, cercada de cadeiras de carvalho lavrado, ressaltava alva e fresca, com um esplêndido cesto de rosas entre duas serpentinas douradas. Carlos ficou à direita da condessa, tendo ao lado D. Maria da Cunha, que nesse dia parecia um pouco mais velha, e sorria com um ar cansado.

- Que tem feito todo este tempo, que ninguém o tem visto? Perguntou-lhe ela, desdobrando o guardanapo.

- Por esse mundo, minha senhora, vagamente...

Defronte de Carlos, o Sr. Sousa Neto, que tinha três enormes corais no peitilho da camisa, estava já observando, enquanto remexia a sopa, que a senhora condessa, na sua viagem ao Porto, devia ter encontrado nas ruas e nos edifícios grandes mudanças... A condessa, infelizmente, mal tinha saído durante o tempo que estivera no Porto. O conde, esse, é que admirara os progressos da cidade. E especificou-os: elogiou a vista do palácio de Cristal; lembrou o fecundo antagonismo que existe entre Lisboa e Porto; mais uma vez o comparou ao dualismo da Áustria e da Hungria. E através destas coisas graves, lançadas de alto, com superioridade e com peso, a baronesa e a senhora de escarlate, aos dois lados dele, falavam do convento das Selesias.

Carlos, no entanto, comendo em silêncio a sua sopa, ruminava as palavras da condessa. Também ela conhecia já a sua intimidade com a «brasileira». Era evidente pois que já andava ali, difamante e torpe, a tagarelice do Dâmaso. E quando o criado lhe ofereceu Sauterne, estava decidido a bater no Dâmaso.

De repente ouviu o seu nome. Do fim da mesa uma voz dizia, pachorrenta e cantada:

- O Sr. Maia é que deve saber... O Sr. Maia já lá esteve.

Carlos pousou vivamente o copo. Era a senhora de escarlate que lhe falava, sorrindo, mostrando uns bonitos dentes sob o buço forte de quarentona pálida. Ninguém lha apresentara, ele não sabia quem era. Sorriu também, perguntou:

- Onde, minha senhora?

- Na Rússia.

- Na Rússia?... Não, minha senhora, nunca estive na Rússia.

<< Página Anterior

pág. 339 (Capítulo 12)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 339

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605