Ela pareceu um pouco desapontada.
- Ah, é que me tinham dito... Não sei já quem me disse, mas era pessoa que sabia...
O conde ao fundo explicava-lhe amavelmente que o amigo Maia estivera apenas na Holanda.
- País de grande prosperidade, a Holanda!... Em nada inferior ao nosso... Já conheci mesmo um holandês que era excessivamente instruído...
A condessa baixara os olhos, partindo vagamente um bocadinho de pão, mais séria de repente, mais seca, como se a voz de Carlos, erguendo-se tão tranquila ao seu lado, tivesse avivado os seus despeitos. Ele, então, depois de provar devagar o seu Sauterne, voltou-se para ela, muito naturalmente e risonho:
- Veja a senhora condessa! Eu nem tive mesmo ideia de ir à Rússia. Há assim uma infinidade de coisas que se dizem e que não são exactas... E se se faz uma alusão irónica a elas, ninguém compreende a alusão nem a ironia...
A condessa não respondeu logo, dando com o olhar uma ordem muda ao escudeiro. Depois, com um sorriso pálido:
- No fundo de tudo que se diz há sempre um facto, ou um bocado de facto que é verdadeiro. E isso basta... Pelo menos a mim basta-me...
- A senhora condessa tem então uma credulidade infantil. Estou vendo que acredita que era uma vez uma filha de um rei que tinha uma estrela na testa...
Mas o conde interpelava-o, o conde queria a opinião do seu amigo Maia. Tratava-se do livro de um inglês, o major Brat, que atravessara a África, e dizia coisas perfidamente desagradáveis para Portugal. O conde via ali só inveja - a inveja que nos têm todas as nações por causa da importância das nossas colónias, e da nossa vasta influência na África...
- Está claro, dizia o conde, que não temos nem os milhões, nem a marinha dos ingleses. Mas temos grandes glórias; o infante D. Henrique é de primeira ordem; e a tomada de Ormuz é um primor... E eu que conheço alguma coisa de sistemas coloniais, posso afirmar que não há hoje colónias nem mais susceptíveis de riqueza, nem mais crentes no progresso, nem mais liberais que as nossas! Não lhe parece, Maia?