Os Maias - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 344 / 630

Mas a condessa e Carlos tinham rido também: - e de repente a frialdade que até aí os conservara ao lado um do outro reservados, numa cerimónia afectada, pareceu dissipar-se ao calor desse riso trocado, no brilho dos dois olhares encontrando-se irresistivelmente. Servira-se o Champagne, ela tinha uma cor no rosto. O seu pé, sem ela saber como, roçou pelo pé de Carlos; sorriram ainda outra vez; - e, como no resto da mesa se conversava sobre uns concertos clássicos que ia haver no Price, Carlos perguntou-lhe, baixo, com uma repreensão amável:

- Que tolice foi essa da brasileira?... Quem lhe disse isso?

Ela confessou-lhe logo que fora o Dâmaso... O Dâmaso viera contar-lhe o entusiasmo de Carlos por essa senhora, e as manhãs inteiras que lá passava, todos os dias, à mesma hora... Enfim o Dâmaso fizera-lhe claramente entrever uma liaison.

Carlos encolheu os ombros. Como podia ela acreditar no Dâmaso? Devia conhecer-lhe bem a tagarelice, a imbecilidade...

- É perfeitamente verdade que eu vou a casa dessa senhora, que nem brasileira é, que é tão portuguesa como eu; mas é porque ela tem a governante muito doente com uma bronquite, e eu sou o médico da casa. Foi até o Dâmaso, ele próprio, que lá me levou como médico!

No rosto da condessa espalhava-se um riso, uma claridade vinda do doce alivio que se fazia no seu coração.

- Mas o Datoaso disse-me que era tão linda!...

Sim, era muito linda. E então? Um médico, por fidelidade às suas afeições, e para as não inquietar, não podia realmente, antes de penetrar na casa de uma doente, exigir-lhe um certificado de hediondez!

- Mas que está ela cá a fazer?...

- Está à espera do marido que foi a negócios ao Brasil, e vem aí... É uma gente muito distinta, e creio que muito rica... Vão-se brevemente embora, de resto, e eu pouco sei deles. As minhas visitas são de médico; tenho apenas conversado com ela sobre Paris, sobre Londres, sobre as suas impressões de Portugal...





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