- E a senhora baronesa, acudiu o Ega, começou por lhe mandar ensinar os verbos mais necessários.
Está claro, dizia a baronesa, que aquele era o mais necessário. Mas na idade da Vicenta já de pouco lhe poderia servir!
- Ah! gritou de repente o conde, deixando quase caír o talher. Agora me lembro!
Tinha-se lembrado enfim do soberbo paradoxo do Barros. Dizia o Barros que os cães, quanto mais ensinados... Pois, não, não era isto!
- Esta minha desgraçada memória!... E era sobre cães. Uma coisa brilhante, filosófica até!
E, por se falar de cães, a baronesa lembrou-se do Tomy, o galgo da condessa; perguntou por Tomy. Já o não via há que tempos, esse bravo Tomy! A condessa nem queria que se falasse no Tomy, coitado! Tinham-lhe nascido umas coisas nos ouvidos, um horror... Mandara-o para o Instituto, lá morrera.
- Está deliciosa esta galantine, disse D. Maria da Cunha, inclinando-se para Carlos.
- Deliciosa.
E a baronesa, do lado, declarou também a galantine uma perfeição. Com um olhar ao escudeiro, a condessa fez servir de novo a galantine: e apressou-se a responder ao Sr. Sousa Neto, que, a propósito de cães, lhe estava falando da Sociedade protectora dos animais. O Sr. Sousa Neto aprovava-a, considerava-a como um progresso... E, segundo ele, não seria mesmo de mais que o governo lhe desse um subsidio.
- Que eu creio que ela vai prosperando... E merece-o, acredite a senhora condessa que o merece... Estudei essa questão, e de todas as sociedades que ultimamente se têm fundado entre nós, à imitação do que se faz lá fora, como a Sociedade de Geografia e outras, a Protectora dos animais parece-me decerto uma das mais úteis.
Voltou-se para o lado, para o Ega:
- V. Ex.ª pertence?
- À Sociedade protectora dos animais?... Não senhor, pertenço a outra, à de Geografia. Sou dos protegidos.
A baronesa teve uma das suas alegres risadas. E o conde fez-se extremamente sério: pertencia à Sociedade de Geografia, considerava-a um pilar do Estado, acreditava na sua missão civilizadora, detestava aquelas irreverências.