- Porquê? Está pior, miss Sarah?
Ela olhou-o, risonhamente escandalizada. Ora, miss Sarah! Miss Sarah ia seguindo perfeitamente na sua convalescença... Mas agora já não eram as visitas de médico que se esperavam, eram as de amigo; e essa tinha-lhe faltado.
Carlos, sem responder, perturbado, voltou-se para Rosa, que folheava junto da mesa um livro novo destampas; e a ternura, a gratidão infinita do seu coração, que não ousava mostrar à mãe, pô-la toda na longa caricia em que envolveu a filha.
- São histórias que a mamã agora comprou, dizia Rosa, séria e presa ao seu livro. Hei de t'as contar depois... São histórias de bichos.
Maria Eduarda erguera-se, desapertando lentamente as fitas do chapéu.
- Quer tomar uma chávena de chá connosco, Sr. Carlos da Maia? Eu vinha morrendo por uma chávena de chá... Que lindo dia, não é verdade? Rosa, fica tu a contar o nosso passeio enquanto eu vou tirar o chapéu...
Carlos, só com Rosa, sentou-se junto dela, desviando-a do livro, tomando-lhe ambas as mãos.
- Fomos ao Passeio da Estrela, dizia a pequena. Mas a mamã não se queria demorar, porque tu podias ter vindo!
Carlos beijou, uma depois da outra, as duas mãozinhas de Rosa.
- E então que fizeste no Passeio? perguntou ele, depois de um leve suspiro de felicidade que lhe fugira do peito.
- Andei a correr, havia uns patinhos novos...
- Bonitos?...
A pequena encolheu os ombros:
- Chinfrinzitos.
Chinfrinzitos! Quem lhe tinha ensinado a dizer uma coisa tão feia?
Rosa sorriu. Fora o Domingos. E o Domingos dizia ainda outras coisas assim, engraçadas... Dizia que a Melanie era uma gaja... O Domingos tinha muita graça.
Então Carlos advertiu-a que uma menina bonita, com tão bonitos vestidos, não devia dizer aquelas palavras... Assim falava a gente rota.
- O Domingos não anda roto, disse Rosa muito séria.
E subitamente, com outra ideia, bateu as palmas, pulou-lhe entre os joelhos, radiante:
- E trouxe-me uns grilos da Praça! O Domingos trouxe-me uns grilos... Se tu soubesses! Niniche tem medo dos grilos!