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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 352
Parece incrível, hein? Eu nunca vi ninguém mais medrosa...

Esteve um momento a olhar Carlos, e acrescentou, com um ar grave:

- É a mamã que lhe dá tanto mimo. É uma pena!

Maria Eduarda entrava, ajeitando ainda de leve o ondeado do cabelo: e, ouvindo assim falar de mimo, quis saber quem é que ela estragava com mimo... Niniche? Pobre Niniche, coitada, ainda essa manhã fora castigada!

Então Rosa rompeu a rir, batendo outra vez as mãos:

- Sabes como a mamã a castiga? exclamava ela, puxando a manga de Carlos. Sabes?... Faz-lhe voz grossa... Diz-lhe em inglês: Bad dog! dreadful dog!

Era encantadora assim, imitando a voz severa da mamã, com o dedinho erguido, a ameaçar Niniche. A pobre Niniche, imaginando com efeito que a estavam a repreender, arrastou-se, vexada, para debaixo do sofá. E foi necessário que Rosa a tranquilizasse, de joelhos sobre a pele de tigre, jurando-lhe, por entre abraços, que ela nem era mau cão, nem feio cão; fora só para contar como fazia a mamã...

- Vai-lhe dar água, que ela deve estar com sede, disse então Maria Eduarda, indo sentar-se na sua cadeira escarlate. E diz ao Domingos que nos traga o chá.

Rosa e Niniche partiram correndo. Carlos veio ocupar, junto da janela, a costumada poltrona de reps. Mas pela primeira vez, desde a sua intimidade, houve entre eles um silêncio difícil. Depois ela queixou-se de calor, desenrolando distraidamente o bordado; e Carlos permanecia mudo, como se para ele, nesse dia, apenas houvesse encanto, apenas houvesse significação numa certa palavra de que os seus lábios estavam cheios e que não ousavam murmurar, que quase receava que fosse adivinhada apesar dela sufocar o seu coração.

- Parece que nunca se acaba, esse bordado! disse ele por fim, impaciente de a ver, tão serena, a ocupar-se das suas lãs.

Com a talagarça desdobrada sobre os joelhos, ela respondeu, sem erguer os olhos:

- E para que se há de acabar? O grande prazer é andá-lo a fazer, pois não acha? Uma malha hoje, outra malha amanhã, torna-se assim uma companhia... Para que se há de querer chegar logo ao fim das coisas?

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 352

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605