Ela pareceu surpreendida:
- Mas que lhe custa, a si, que tem cavalos, que tem carruagens, que não tem quase nada que fazer?...
Assim ela achava natural que ele continuasse nos Olivais as suas visitas de Lisboa! E pareceu-lhe logo impossível renunciar ao encanto desta intimidade, tão largamente oferecida, e decerto mais doce na solidão da aldeia. Quando acabou a sua chávena de chá - era como se a casa, os moveis, as árvores fossem já seus, fossem já dela. E teve ali um momento delicioso, descrevendo-lhe a quietação da quinta, a entrada por uma rua de acácias, e a beleza da sala de jantar com duas janelas abrindo sobre o rio...
Ela escutava-o, encantada:
- Oh! isso era o meu sonho! Vou ficar agora toda alterada, cheia de esperanças... Quando poderei ter uma resposta?
Carlos olhou o relógio. Era já tarde para ir aos Olivais. Mas logo na manhã seguinte cedo, ia falar com o dono da casa, seu amigo...
- Quanto incomodo por minha causa! disse ela. Realmente! Como lhe hei de eu agradecer?...
Calou-se; mas os seus belos olhos ficaram um instante pousados nos de Carlos, como esquecidos, e deixando fugir irresistivelmente um pouco do segredo que ela retinha no seu coração.
Ele murmurou:
- Por mais que eu fizesse, ficaria bem pago de tudo se me olhasse outra vez assim.
Uma onda de sangue cobriu toda a face de Maria Eduarda.
- Não diga isso...
- E que necessidade há que eu lho diga? Pois não sabe perfeitamente que a adoro, que a adoro, que a adoro!
Ela ergueu-se bruscamente, ele também: - e assim ficaram, mudos, cheios de ansiedade, trespassando-se com os olhos, como se se tivesse feito uma grande alteração no Universo, e eles esperassem, suspensos, o desfecho supremo dos seus destinos... E foi ela que falou, a custo, quase desfalecida, estendendo para ele, como se o quisesse afastar, as mãos inquietas e trémulas:
- Escute! Sabe bem o que eu sinto por si, mas escute... Antes que seja tarde há uma coisa que lhe quero dizer...
Carlos via-a assim tremer, via-a toda pálida...