Os Maias - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 357 / 630

Os seus olhos alargavam-se, ansiosos e refulgentes.

Carlos ia falar-lhe... Um leve rumor de passos na esteira da sala deteve-o. Era o Domingos que vinha recolher a bandeja do chá: e durante um momento, quase interminável, houve entre aqueles dois seres, sacudidos por um ardente vendaval de paixão, a caseira passageira de um criado arrumando chávenas vazias. Maria Eduarda, bruscamente, refugiou-se detrás das bambinelas de cretone com o rosto contra a vidraça. Carlos foi sentar-se no sofá, a folhear ao acaso uma Ilustração, que lhe tremia nas mãos. E não pensava em nada, nem sabia onde estava... Ainda na véspera, havia ainda instantes, conversando com ela, dizia cerimoniosamente «minha cara senhora»: depois houvera um olhar; e agora deviam fugir ambos, e ela tornara-se o cuidado supremo da sua vida, e a esposa secreta do seu coração.

- V. Ex.ª quer mais alguma coisa? perguntou Domingos.

Maria Eduarda respondeu sem se voltar:

- Não.

O Domingos saiu, a porta ficou cerrada. Ela então atravessou a sala, veio para Carlos, que a esperava no sofá, com os braços estendidos. E era como se obedecesse só ao impulso da sua ternura, calmadas já todas as incertezas. Mas hesitou de novo diante daquela paixão, tão pronta a apoderar-se de todo o seu ser, e murmurou, quase triste:

- Mas conhece-me tão pouco!... Conhece-me tão pouco, para irmos assim ambos, quebrando por tudo, criar um destino que é irreparável...

Carlos tomou-lhe as mãos, fazendo-a sentar ao seu lado, brandamente:

- O bastante para a adorar acima de tudo, e sem querer mais nada na vida!

Um instante Maria Eduarda ficou pensativa, como recolhida no fundo do seu coração, escutando-lhe as derradeiras agitações. Depois soltou um longo suspiro.

- Pois seja assim! Seja assim... Havia uma coisa que eu lhe queria dizer, mas não importa... É melhor assim!...

- E que outra coisa podiam fazer? perguntava Carlos radiante. Era a única solução digna, séria... E nada os podia embaraçar; amavam-se, confiavam absolutamente um no outro; ele era rico, o mundo era largo...





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