Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: Capítulo 13

Página 371
Aí está esse soneto de Sintra que eu te dediquei, Carlos. É realista, está claro que é, realista... Pudera, se é paisagem! Ora eu vo-lo digo... Ia justamente dizê-lo, quando tu apareceste, Ega... Mas vejam lá vocês se isto os maça...

Qual maçava! E até, para o escutarem melhor, penetraram na rua de S. Francisco, mais silenciosa. Aí, dando um passo lento, depois outro, o poeta murmurou a sua écloga. Era em Sintra, ao pôr-do-sol: uma inglesa, de cabelos soltos, toda de branco, desce num burrinho por uma vereda que domina um vale; as aves cantam de leve, há borboletas em torno das madressilvas; então a inglesa pára, deixa o burrinho, olha enlevada o céu, os arvoredos, a paz das casas; - e aí, no último terceto, vinha «a nota realista» de que se ufanava o Alencar:

Ela olha a flor dormente, a nuvem casta,

Enquanto o fumo dos casai se eleva

E ao lado o burro, pensativo, pasta.

- Aí têm vocês o traço, a nota naturalista... Ao lado o burro, pensativo, pasta... Eis aí a realidade, está-se a ver o burro pensativo... Não há nada mais pensativo que um burro... E são estas pequeninas coisas da natureza que é necessário observar... Já vêem votos que se pode fazer realismo, e do bom, sem vir logo com obscenidades... Vocês que lhes parece o soneto?

Ambos o elogiaram profundamente - Carlos arrependido de não ter completado a humilhação do Dâmaso, dando-lhe bengaladas; Ega pensando que decerto, numa dessas tardes, no Chiado, teria de esbofetear o Cohen. Como eles recolhiam ao Ramalhete, Alencar, já desanuviado, foi acompanha-los pelo Aterro. E falou sempre, contando o plano de um romance histórico, em que ele queria pintar a grande figura de Afonso de Albuquerque, mas por um lado mais humano, mais íntimo: Afonso de Albuquerque namorado: Afonso de Albuquerque, só, de noite, na popa do seu galeão, diante de Ormuz incendiada, beijando uma flor seca, entre soluços. Alencar achava isto sublime. Depois de jantar, Carlos vestia-se para ir à rua de S. Francisco - quando o Baptista veio dizer que o Sr. Teles da Gama lhe desejava falar com urgência.

<< Página Anterior

pág. 371 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 371

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605