Não o querendo receber, ali, em mangas de camisa, mandou-o entrar para o gabinete escarlate e preto. E veio daí a um instante encontrar Teles da Gama admirando as belas faianças holandesas.
- Você, Maia, tem isto lindíssimo, exclamou ele logo. Eu pelo-me por porcelanas... Hei de voltar um dia destes, com mais vagar, ver tudo isto, de dia... Mas hoje venho com pressa, venho com uma missão... Você não adivinha?
Carlos não adivinhava.
E o outro, recuando um passo, com uma gravidade em que transparecia um sorriso:
- Eu venho aqui perguntar-lhe da parte do Dâmaso, se você hoje, naquilo que lhe disse, tinha tenção de o ofender. É, só isto... A minha missão é apenas esta: perguntar-lhe se você tinha intenção de o ofender.
Carlos olhou-o, muito sério:
- O quê!? Se tinha intenção de ofender o Dâmaso quando o ameacei de lhe arrancar as orelhas? De modo nenhum: tinha só intenção de lhe arrancar as orelhas!
Teles da Gama saudou, rasgadamente:
- Foi isso mesmo o que eu respondi ao Dâmaso: que você não tinha senão essa intenção. Em todo o caso, desde este momento, a minha missão está finda... Como você tem isto bonito!... O que é aquele prato grande, majólica?
- Não, um velho Nevers. Veja você ao pé... É Tétis conduzindo as armas de Aquiles... É esplêndido; e é muito raro... Veja você esse Deft, com as duas tulipas amarelas... É um encanto!
Teles da Gama dava um olhar lento a todas estas preciosidades, tomando o chapéu de sobre o sofá.
- Lindíssimo tudo isto!... Então só intenção de lhe arrancar as orelhas? nenhuma de o ofender?...
- Nenhuma de o ofender, toda de lhe arrancar as orelhas... Fume você um charuto.
- Não, obrigado...
- Cálice de cognac?
- Não! abstenção total de bebidas e águas ardentes... Pois adeus, meu bom Maia!
- Adeus, meu bom Teles...
Ao outro dia, por uma radiante manhã de julho, Carlos saltava do coupé, com um molho de chaves, diante do portão da quinta do Craft. Maria Eduarda devia chegar às dez horas, só, na sua carruagem da Companhia.