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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 377
Era toda forrada, paredes e tectos, de um brocado amarelo, cor de botão de ouro; um tapete de veludo do mesmo tom rico fazia um pavimento de ouro vivo sobre que poderiam correr nus os pés ardentes de uma deusa amorosa - e o leito de dossel, alçado sobre um estrado, coberto com uma colcha de cetim amarelo bordada a flores de ouro, envolto em solenes cortinas também amarelas de velho brocatel, - enchia a alcova, esplêndido e severo, e como erguido para as voluptuosidades grandiosas de uma paixão trágica do tempo de Lucrécia ou de Romeu. E era ali que o bom Craft, com um lenço de seda da Índia amarrado na cabeça, resonava as suas sete horas, pacata e solitariamente.

Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos. Depois impressionou-se, ao reparar num painel antigo, defumado, resultando em negro do fundo de todo aquele ouro - onde apenas se distinguia uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro de um prato de cobre. E para maior excentricidade, a um canto, de cima de uma coluna de carvalho, uma enorme coruja empalhada fixava no leito de amor, com um ar de meditação sinistra, os seus dois olhos redondos e agourentos... Maria Eduarda achava impossível ter ali sonhos suaves.

Carlos agarrou logo na coluna e no mocho, atirou-os para um canto do corredor; e propôs-lhe mudar aqueles brocados, forrar a alcova de um cetim cor-de-rosa e risonho.

- Não, venho-me a acostumar a todos esses duros... Somente aquele quadro, com a cabeça, e com o sangue... Jesus, que horror!

- Reparando bem, disse Carlos, creio que é o nosso velho amigo S. João Baptista.

Para desfazer essa impressão desconsolada levou-a ao salão nobre, onde Craft concentrara as suas preciosidades. Maria Eduarda, porém, ainda descontente, achou-lhe um ar atulhado e frio de museu.

- É para ver de pé, e de passagem... Não se pode ficar aqui sentado, a conversar.

- Mas esta é matéria-prima! exclamou Carlos. Com isto depois faz-se uma sala adorável... Para que serve o nosso génio decorativo?... Olhe o armário, veja que centro! Que beleza!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 377

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605