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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 38
Isto indignou-o, e rompeu a passear pela sala, rígido e áspero, cerrando os lábios para que não lhe escapassem as palavras de ira e de injúria que lhe enchiam o peito em tumulto... - Mas era pai: ouvia, ali ao seu lado, aquele soluçar de funda dor; via tremer aquele pobre corpo desgraçado que ele outrora embalara nos braços; - parou junto de Pedro, tomou-lhe gravemente a cabeça entre as mãos, e beijou-o na testa, uma vez, outra vez, como se ele fosse ainda criança, restituindo-lhe ali e para sempre a sua ternura inteira.

- Tinha razão, meu pai, tinha razão, murmurava Pedro entre lágrimas.

Depois ficaram calados. Fora, as pancadas sucessivas da chuva batiam a casa, a quinta, num clamor prolongado; e as árvores, sob as janelas, ramalhavam num vasto vento de inverno.

Foi Afonso que quebrou o silêncio:

- Mas para onde fugiram, Pedro? Que sabes tu, filho? Não é só chorar...

- Não sei nada, respondeu Pedro num longo esforço. Sei que fugiu. Eu saí de Lisboa na segunda-feira. Nessa mesma noite, ela partiu de casa numa carruagem, com uma maleta, o cofre de jóias, uma criada italiana que tinha agora, e a pequena. Disse à governante e à ama do pequeno que ia ter comigo. Elas estranharam, mas que haviam de dizer?... Quando voltei, achei esta carta.

Era um papel já sujo, e desde essa manhã decerto muitas vezes relido, amarrotado com fúria. Continha estas palavras:

«É uma fatalidade, parto para sempre com Tancredo, esquece-me que não sou digna de ti, e levo a Maria que me não posso separar dela.»

- E o pequeno, onde está o pequeno? exclamou Afonso.

Pedro pareceu recordar-se:

- Está lá dentro com a ama, trouxe-o na sege.

O velho correu, logo; e daí a pouco aparecia, erguendo nos braços o pequeno, na sua longa capa branca de franjas e a sua touca de rendas. Era gordo, de olhos muito negros, com uma adorável bochecha fresca e cor-de-rosa. Todo ele ria, grulhando, agitando o seu guiso de prata. A ama não passou da porta, tristonha, com os olhos no tapete e uma trouxazinha na mão.

Afonso sentou-se lentamente na sua poltrona, e acomodou o neto no colo.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 38

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605