Os Maias - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 382 / 630

Com os tempos o ser civilizado e completo vinha a alimentar-se unicamente de produtos artificiais, em frasquinhos e em pilulas, feitos nos laboratórios do Estado...

- O campo, disse então D. Diogo, passando gravemente os dedos pelos bigodes, tem certa vantagem para a sociedade, para se fazer um bonito picnic, para uma burficada, para uma partida de croquet... Sem campo não há sociedade.

- Sim, rosnou o Ega, como uma sala em que também há árvores ainda se admite...

Enterrado numa poltrona, fumando languidamente, Carlos sorria em silêncio. Todo o jantar estivera assim calado, sorrindo esparsamente a tudo, com um ar luminoso e de deliciosa lassidão. E então o marquês, que já duas vezes, dirigindo-se a ele, encontrara a mesma abstracção radiosa, impacientou-se:

- Homem, fale, diga alguma coisa!... Você está hoje com um ar extraordinário, um arzinho de beato que se regalou de papar o Santíssimo!

Todos em redor, com simpatia, se afirmaram em Carlos: Vilaça achava-lhe agora melhor cara, cor de alegria: D. Diogo, com um ar entendido, sentindo mulher, invejou-lhe os anos, invejou-lhe o vigor. E Afonso reenchendo o cachimbo olhava o neto, enternecido.

Carlos ergueu-se imediatamente, fugindo àquele exame afectuoso.

- Com efeito, disse ele, espreguiçando-se de leve, tenho estado hoje lânguido e mono... É o começo do verão... Mas é necessário sacudir-me... Quer você fazer uma partida de bilhar, ó marquês?

- Vá lá, homem. Se isso o ressuscita...

Foram, Ega seguiu-os. E apenas no corredor o marquês parando, e como recordando-se, perguntou sela rebuço ao Ega noticias dos Cohens. Tinham-se encontrado? Estava tudo acabado? Para o marquês, uma flor de lealdade, não havia segredos: Ega contou-lhe que o romance findara, e agora o Cohen, quando o cruzava, baixava prudentemente os olhos...

- Eu perguntei isto, disse o marquês, porque já vi a Cohen duas vezes...

- Onde? foi a exclamação sôfrega do Ega.

- No Price, e sempre com o Dâmaso. A última vez foi já esta semana. E lá estava o Dâmaso, muito chegadinho, palrando muito... Depois veio sentar-se um bocado ao pé de mim, e sempre de olho nela...





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