Os Maias - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 384 / 630

Carlos saltou para dentro, furioso:

- Dá uma volta pelo Aterro, gritou ao cocheiro. Devagar!

O velho calhambeque desceu a calçada; e durante um momento, na escuridão, recuando um do outro no assento estreito, tiveram as mesmas palavras, bruscas e coléricas, através do barulho das vidraças.

- Que imprudência! que tolice!...

- E de quem é a culpa? De quem é a culpa?

Depois, na rampa de Santos, o coupé rolou mais silenciosamente no macadam. Carlos então, arrependido da sua dureza, voltou-se para ela, e com brandura, quase no tom carinhoso doutrora, repreendeu-a por aquela imprudência... Pois não era melhor ter-lhe escrito?

- Para quê? exclamou ela. Para não me responder? Para não fazer caso das minhas cartas, como se fossem as de um importuno a pedir-lhe uma esmola!...

Sufocava, arrancou a mantilha da cabeça. No vagaroso rolar do coupé, sem ruído, ao longo do rio, Carlos sentia a respiração dela, tumultuosa e cheia de angústia. E não dizia nada, imóvel, num infinito mal-estar, entrevendo confusamente, através do vidro embaciado, na sombra triste do rio adormecido, as mastreações vagas de faluas. A parelha parecia ir adormecendo; e as queixas dela desenrolavam-se, profundas, mordentes, repassadas de amargura.

- Peço-lhe que venha a Santa Isabel, não vem... Escrevo-lhe, não me responde... Quero ter uma explicação franca consigo, não aparece... Nada, nem um bilhete, nem uma palavra, nem um aceno... Um desprezo brutal, um desprezo grosseiro... Eu nem devia ter vindo... Mas não pude, não pude!... quis saber o que lhe tinha feito. O que é isto? Que lhe fiz eu?

Carlos percebia os olhos dela, faiscantes sob a névoa de lágrimas retidas, suplicando e procurando os seus. E sem coragem sequer de a fitar, murmurou, torturado:

- Realmente, minha amiga... As coisas falam bem por si, não são necessárias explicações.

- São! É necessário saber se isto é uma coisa passageira, um amuo, ou se é uma coisa definitiva, um rompimento.





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