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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 392

- Ouve lá, dizia-lhe o poeta baixo, e puxando-o pela manga, para o lado. Tu não conheces este meu amigo? Pois foi muito de teu pai, fizemos muita troça juntos... Não era nenhum personagem, era apenas um alquilador de cavalos... Mas tu sabes, cá em Portugal, sobretudo nesses tempos, havia muita bonomia, o fidalgo dava-se com o arrieiro... Mas, que diabo, tu deves conhecê-lo! É o tio do Dâmaso!

Carlos não se recordava.

- O Guimarães, o que está em Paris!

- Ah, o comunista!

- Sim, muito republicano, homem de ideias humanitárias, amigo do Gambeta, escreve no Rapel... Homem interessante!... Veio aí por causa de umas terras que herdou do irmão, desse outro tio do Dâmaso que morreu há meses... E demora-se, creio eu... Pois jantamos hoje juntos, beberam-se uns líquidos, e até estivemos a falar de teu pai... Queres tu que eu to apresente?

Carlos hesitou. Seria melhor noutra ocasião mais intima, quando pudessem fumar um charuto tranquilo, e conversar do passado...

- Valeu! Hás de gostar dele. Conhece muito Victor Hugo, detesta a padraria... Espírito largo, espírito muito largo!

O poeta sacudiu ardentemente as duas mãos de Carlos. O Sr. Guimarães ergueu de leve o seu chapéu, carregado de crepe.

Todo o caminho, até ao Ramalhete, Carlos foi pensando em seu pai e nesse passado, assim rememorado e estranhamente ressurgido pela presença daquele patriarca, antigo alquilador, que fizera com ele tantas troças! E isto trazia conjuntamente outra ideia, que nesses últimos dias já o atravessara, pertinaz e torturante, dando-lhe, no meio da sua radiante felicidade, um sombrio arrepio de dor... Carlos pensava no avô.

Estava agora decidido que Maria Eduarda e ele partiriam para Itália, nos fins de outubro. Castro Gomes, na sua última carta do Brasil, seca e pretensiosa, falava «em aparecer por Lisboa, com as elegâncias do frio, lá para meado de novembro»; e era necessário antes disso que estivessem já longe, entre as verduras de Isola Bela, escondidos no seu amor e separados por ele do mundo como pelos muros de um claustro.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 392

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605