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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 393
Tudo isto era fácil, considerado quase legítimo pelo seu coração, e enchia a sua vida de esplendor... Somente havia nisto um espinho - o avô!

Sim, o avô! Ele partia com Maria, ele entrava na ventura absoluta; mas ia destruir de uma vez e para sempre a alegria de Afonso, e a nobre paz que lhe tornava tão bela a velhice. Homem de outras eras, austero e puro, como uma dessas fortes almas que nunca desfaleceram - o avô, nesta franca, viril, rasgada solução de um amor indominável, só veria libertinagem! Para ele nada significava o esponsal natural das almas, acima e fora das ficções civis; e nunca compreenderia essa subtil ideologia sentimental, com que eles, como todos os transviados, procuravam azular o seu erro. Para Afonso haveria apenas um homem que leva a mulher doutro, leva a filha doutro, dispersa uma família, apaga um lar, e se atola para sempre na concubinagem: todas as subtilezas da paixão, por mais finas, por mais fortes, quebrar-se-iam, como bolas de sabão, contra as três ou quatro ideias fundamentais de Dever, de Justiça, de Sociedade, de Família, duras como blocos de mármore, sobre que assentara a sua vida quase durante um século... E seria para ele como o horror de uma fatalidade! Já a mulher de seu filho fugira com um homem, deixando atrás de si um cadáver; seu neto agora fugia também, arrebatando a família doutro: é a história da sua casa tornava-se assim uma repetição de adultérios, de fugas, de dispersões, sob o bruto aguilhão da carne!... Depois as esperanças que Afonso fundara nele – considerá-las-ia tombadas, mortas no lodo! Ele passava a ser para sempre, na imaginação angustiada do avô, um foragido, um inutilizado, tendo partido todas as raízes que o prendiam ao seu solo, tendo abdicado toda a acção que o elevaria no seu país, vivendo por hotéis de refugio, falando línguas estranhas, entre uma família equivoca crescida em torno dele como as plantas de uma ruína... Sombrio tormento, implacável e sempre presente, que consumiria os derradeiros anhos do pobre avô!... Mas, que podia ele fazer? Já o dissera ao Ega. A vida é assim! Ele não tinha o heroísmo nem a santidade que tornam fácil o sacrifício...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 393

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605