Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: Capítulo 14

Página 397
E Carlos nada tinha a contar senão que pensara nela, que sonhara com ela... Depois era um silêncio: os pardais piaram, as pombas arrulhavam por cima do leve telhado : e Niniche, que os acompanhava sempre, seguia os seus murmúrios, os seus silêncios, enroscada a um canto, com um olho negro, reluzindo desconfiadamente por entre as repas prateadas.

Fora, por aqueles dias de calma, sem aragem, a quinta seca, de um verde empoeirado, dormia com as folhagens imóveis, sob o peso do sol. Da casa branca, através das Persianas fechadas, vinha apenas o som amodorrado das escalas que Rosa fazia no piano. E no quiosque havia também um silêncio satisfeito e pleno - somente quebrado por algum doce suspiro de lassidão que saía do divã, dentre as almofadas de seda, ou algum beijo mais longo e de um remate mais profundo... Era Niniche que os tirava daquele suave entorpecimento, farta de estar ali quieta, encerrada entre as madeiras quentes, num ar mole já repassado desse aroma indefinido em que havia jasmim.

Lenta, e passando as mãos no rosto Maria erguia-se - mas para cair logo aos pés de Carlos, no seu reconhecimento infinito... Meu Deus, o que lhe custava então esse momento de separação! Para que havia de ser assim? Parecia tão pouco natural, esposos como eram, que ela ficasse ali toda a noite, sozinha, com o seu desejo dele, e ele fosse, sem as suas carícias, dormir solitariamente ao Ramalhete!... E ainda se demoravam muito tempo, numa mudez de êxtase, em que os olhos húmidos, trespassando-se, continuavam o beijo insaciado que morrera nos seus lábios cansados. Era Niniche que os fazia sair por fim trotando impacientemente da porta para o divã, rosnando, ameaçando ladrar.

Muitas vezes ao recolherem Maria tinha uma inquietação. Que pensaria miss Sarah desta sesta assim enclausurada, sem um rumor, com a janela do pavilhão cerrada? Melanie, desde pequena ao serviço de Maria, era uma confidente: o bom Domingos, um imbecil, não contava: mas miss Sarah?... Maria confessava sorrindo que se sentia um pouco humilhada, ao encontrar depois à mesa os cândidos olhos da inglesa sob os seus bandós virginais...

<< Página Anterior

pág. 397 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 397

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605