Está claro! se a boa miss tivesse a ousadia de resmungar ou franzir de leve a testa, recebia logo secamente a sua passagem no Royal Mail para Southampton! Rosa não a lamentaria, Rosa não lhe tinha afeição. Mas, enfim, era tão séria, admirava tanto a senhora! Ela não gostava de perder a admiração de uma rapariga tão séria. E assim decidiram despedir miss Sarah, regiamente paga, e substituí-la, mais tarde, em Itália, por uma governante alemã, para quem eles fossem como casados, «Monsieur et Madame...»
Mas pouco a pouco o desejo de uma felicidade mais intima, mais completa, foi crescendo neles. Não lhes bastava já essa curta manhã no divã com os pássaros cantando por cima, a quinta cheia de sol, tudo acordado em redor: apeteciam o longo contentamento de uma longa noite, quando os seus braços se pudessem enlaçar sem encontrar o estofo dos vestidos, e tudo dormisse em torno, os campos, a gente e a luz... De resto era bem fácil! A sala de tapeçarias, comunicando com a alcova de Maria, abriu sobre o jardim por uma porta envidraçada; a governante, os criados, subiam às dez horas para os seus quartos no andar alto; a casa adormecia profundamente; Carlos tinha uma chave do portão; e o único cão, Niniche, era o confidente fiel dos seus beijos...
Maria desejava essa noite tão ardentemente como ele. Uma tarde ao escurecer, voltando de um fresco passeio nos campos, experimentaram ambos essa dupla chave - que Carlos já prometia mandar dourar: e ele ficou surpreendido ao ver que o velho portão, que ouvira sempre ranger abominavelmente, rolava agora nos gonzos com um silêncio oleoso.
Veio nessa mesma noite - tendo deixado na vila para o levar ao amanhecer a caleche do Mulato, um batedor discreto, que ele cevava de gorjetas. O céu, mole e abafado, não tinha uma estrela; e sobre o mar lampejava a espaços, mudamente, a lividez de um relâmpago. Caminhando com inúteis cautelas rente do muro Carlos sentia, nesta proximidade de uma posse tão desejada, uma melancolia, cerrada de ansiedade, que vagamente o acobardava.