Os Maias - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 404 / 630

- Good morning, sir, respondeu ela com o seu ar modesto e tímido.

Carlos falou do calor. Miss Sarah já àquela hora o achava intolerável. Felizmente a vista do rio, lá em baixo, refrescava...

Sobretudo a noite passada, insistiu Carlos acendendo a cigarrete, fora tão abafada! Ele mal pudera dormir. E ela?

Oh, ela dormira de um sono só. Carlos quis saber se tivera bonitos sonhos.

- Oh yes, sir.

- Oh yes! mas agora um yes púdico, sem gemidos, com os olhos baixos. E tão correcta, tão pregada, fresca como se nunca tivesse servido!... Positivamente era extraordinária! E Carlos, torcendo o bigode, pensava que ela devia ter um seiozinho bem alvo e bem redondinho!

Assim ia passando o verão nos Olivais. No começo de setembro, Carlos soube por uma carta do avô que Craft devia chegar a Lisboa, num sábado, ao Hotel Central: e correu lá cedo, logo nessa manhã, a ouvir as novidades de Santa Olávia. Achou Craft já a pé, diante do espelho, fazendo a barba. A um canto do sofá, Eusébiozinho, que viera na véspera à noite de Sintra e estava também no Hotel, limpava as unhas com um canivete, em silêncio, coberto de negro.

Craft vinha encantado com Santa Olávia. Nem compreendia como Afonso, beirão forte, tolerava a rua de S. Francisco, e o quintalejo abafado do Ramalhete. Tinha-se passado regiamente! O avô, cheio de saúde, de uma hospitalidade que lembrava Abraão e a Bíblia. O Sequeira óptimo comendo tanto que ficava inútil depois de jantar, a estoirar e a gemer no fundo de uma poltrona. Lá conhecera o velho Travassos, que falava sempre com os olhos cheios de lágrimas do «talento do seu caro colega Carlos.» E o marquês esplêndido, com abraços de primo a todos os fidalgotes de Lamego, e apaixonado por uma barqueira... De resto soberbos jantares, alguns tiros aos coelhos, uma romaria, danças de raparigas no adro, guitarradas, esfolhadas, todo o doce idílio português...





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