Os Maias - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 406 / 630

E apenas saíra o pátio, Craft travou do braço de Carlos, e disse-lhe que as coisas sérias a respeito de Santa Olávia - era o visível, profundo desgosto do avô por ele não ter lá aparecido.

- Seu avô não me disse nada, mas eu sei que ele está muitíssimo magoado com você. Não há desculpa, são umas horas de viagem... Você sabe como ele o adora... Que diabo! Est modus in rebus.

- Com efeito, murmurou Carlos. Eu devia ter lá ido... Que quer você, amigo?... Enfim acabou-se, é necessário fazer um esforço!... Talvez parta para a semana com o Ega.

- Sim, homem, dê-lhe esse alegrão... Esteja lá umas semanas...

- Est modus in rebus. Hei de ver se lá estou uns dias.

A caverna do procurador era defronte do Monte-Pio. Carlos esperava, havia momentos, dando por diante das lojas uma volta lenta - quando de repente avistou Melanie, a sair o portão do Monte-Pio, com uma matrona gorda, de chapéu roxo. Surpreendido, atravessou a rua. Ela estacou como apanhada, fazendo-se toda vermelha; e nem deixou vir a pergunta; balbuciou logo que Madame lhe dera licença para vir a Lisboa, e ela andava acompanhando aquela amiga... Uma velha caleche, de parelha branca, estava encalhada ali, contra o passeio. Melanie saltou para dentro, à pressa. A traquitana rodou aos solavancos para o Terreiro do Paço.

Carlos via-a desaparecer, pasmado. E Craft, que voltara, olhando também, reconheceu no lamentável calhambeque a caleche do Torto, dos Olivais, onde ele às vezes costumava vir «janotar a Lisboa».

- Era alguém lá da Toca? perguntou.

Uma criada, disse Carlos, ainda espantado daquele estranho embaraço de Melanie.

E mal tinham dado alguns passos, Carlos, parando, baixando a voz no rumor da rua:

- Ouça lá! O Eusebiozinho disse-lhe alguma coisa a meu respeito, Craft?

O outro confessou que Eusebiozinho, apenas lhe aparecera no quarto, rompera logo, mascando as palavras, a informá-lo da misteriosa vida de Carlos nos Olivais...

- Mas eu fi-lo calar, acrescentou Craft, declarando-lhe que era tão pouco curioso que nem mesmo quisera ler nunca a História Romana... Em todo o caso você deve ir a Santa Olávia.





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