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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 41
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Afonso tomou uma colher de sopa, depois rolou a sua poltrona para junto do fogão; e ali ficou envolvido pouco a pouco naquele melancólico crepúsculo de dezembro, com os olhos no lume, escutando o sudoeste contra as vidraças, pensando em todas as coisas terríveis que assim invadiam num tropel patético a sua paz de velho. Mas no meio da sua dor, funda como era, ele percebia um ponto, um recanto do seu coração onde alguma coisa de muito doce, de muito novo, palpitava com uma frescura de renascimento, como se algures, no seu ser, estivesse rompendo, borbulhando uma nascente rica de alegrias futuras; e toda a sua face sorria à chama alegre, revendo a bochechinha rosada, sob as rendas brancas da touca...

Pela casa no entanto tinham-se acendido as luzes. Já inquieto, subiu ao quarto do filho; estava tudo escuro, tão húmido e frio, como se a chuva caísse dentro. Um arrepio confrangeu o velho, e quando chamou, a voz de Pedro veio do negro da janela: estava lá, com a vidraça aberta, sentado fora na varanda, voltado para a noite brava, para o sombrio rumor das ramagens, recebendo na face o vento, a água, toda a invernia agreste.

- Pois estás aqui filho! exclamou Afonso. Os criados hão de querer arranjar o quarto, desce um momento... Estás todo molhado, Pedro!

Apalpava-lhe os joelhos, as mãos regeladas. Pedro ergueu-se com um estremeção, desprendeu-se, impaciente daquela ternura do velho.

- Querem arranjar o quarto, hein? Faz-me bem o ar, faz-me tão bem!

O Teixeira trouxe luzes, e atrás dele apareceu o criado de Pedro, que chegara nesse momento de Arroios, com um largo estojo de viagem recoberto de oleado. As malas tinha-as deixado em baixo; e o cocheiro viera também, como nenhum dos senhores estava em

casa...

- Bem, bem, interrompeu Afonso. O Sr. Vilaça lá irá amanhã, e ele dará as ordens.

O criado então, em bicos de pés, foi depor o estojo sobre o mármore da cómoda: ainda lá restavam antigos frascos de toilete de Pedro: e os castiçais sobre a mesa alumiavam o grande leito triste de solteiro com os colchões dobrados ao meio.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 41

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605