Depois, mais alegremente, falaram da instalação desse amor. Carlos permanecia na sua ideia romântica um cotage à beira de um lago. Mas Ega não aprovava o lago. Ter todos os dias diante dos olhos uma água sempre mansa e sempre azul, parecia-lhe perigoso para a durabilidade da paixão. Na quietação continua de uma paisagem igual, dois amantes solitários, dizia ele, não sendo botânicos nem pescando à linha, vêem-se forçados a viver exclusivamente do desejo um do outro, e a tirar daí todas as suas ideias, sensações, ocupações, gracejos e silêncios... E, que diabo, o mais forte sentimento não pode dar para tanto! Dois amantes, cuja única profissão é amarem-se, deviam procurar uma cidade, uma vasta cidade, tumultuosa e criadora, onde o homem tenha durante o dia os clubs, o cavaco, os museus, as ideias, o sorriso doutras mulheres - e a mulher tenha as ruas, as compras, os teatros, a atenção doutros homens; de sorte que à noite, quando se reúnam, não tendo passado o infindável dia a observarem-se um no outro e a si próprios, trazendo cada um a vibração da vida forte que atravessaram - achem um encanto novo e verdadeiro no conchego da sua solidão, e um sabor sempre renovado na repetição dos seus beijos...
- Eu, continuava Ega, erguendo-se, se levasse para longe uma mulher, não era para um lago, nem para a Suíça, nem para os montes da Sicília; era para Paris, para o boulevard dos Italianos, ali à esquina do Vaudeville, com janelas deitando para a grande vida, a um passo do Fígaro, do Louvre, da Filosofia e da blague... Aqui tens tu a minha doutrina!...