Os Maias - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 427 / 630

E depois vê-la chorar... Sim, tinha esta ansiedade cheia d'amor de a ver chorar. A agonia que ele sentira no salão cor de musgo do outono, enquanto o outro arrastava os rr, queria vê-la repetida nesse seio, onde ele atá aí dormira tão docemente, esquecido de tudo, e que era belo, tão divinamente belo!...

Bruscamente, decidido, deu um puxão à campainha. Baptista apareceu todo abotoado na sua sobrecasaca, com um ar resoluto, como armado e pronto a ser útil naquela crise que adivinhava...

- Baptista, corre ao hotel Central e pergunta se já entrou o Sr. Castro Gomes!... Não, escuta... Põe-te à porta do Central, e espera até que entre aquele sujeito que aqui esteve... Não, é melhor perguntar!... Enfim, certifica-te de que o sujeito ou voltou ou está no hotel. E apenas estejas bem certo disso, volta aqui, à desfilada, numa tipoia... Um batedor seguro, que é para me levar depois aos Olivais!...

Imediatamente, dada esta ordem, serenou. Era já um alivio imenso não ter de escrever a carta, e achar palavras acerbas que a deviam dilacerar. Rasgou o papel devagar. Depois fez o cheque de duzentas libras, ao portador. Ele mesmo lho levaria... Oh, decerto, não lho atirava romanticamente ao regaço... Deixá-lo-ia sobre uma mesa, sobrescritado a Madame Mac-Gren... E de repente sentiu uma compaixão por ela. Via-a já, abrindo o envelope com duas grandes lágrimas, lentas, caladas, a rolarem-lhe na face... E os seus próprios olhos se humedeceram.

Nesse momento Ega, de fora, perguntou se era importuno.

- Entra! gritou.

E continuou passeando, calado, com as mãos nos bolsos: o outro, em silêncio também, foi encostar-se à janela sobre o jardim.

- Preciso escrever ao avô a dizer-lhe que cheguei, murmurou Carlos por fim, parando junto da mesa.

- Dá-lhe recados meus.

Carlos sentara-se, tomara languidamente a pena: mas bem depressa a arremessou: cruzou as mãos por detrás da cabeça no espaldar da cadeira, cerrou os olhos, como exausto.

- Sabes uma coisa que me parece certa? disse de repente o Ega da janela. Quem escreveu a carta anónima ao Castro Gomes foi o Dâmaso!





Os capítulos deste livro