Mas porque? Porque fora esta farsa banal, arrastada por todos os palcos de opera cómica, da cocote que se finge senhora? Porque o fizera ela, com aquele falar honesto, o puro perfil e a doçura de mãe? Por interesse? Não. Castro Gomes era mais rico do que ele, mais largamente lhe podia satisfazer o apetite mundano de toiletes, de carruagens... Sentia ela que Castro Gomes a ia abandonar, e queria ter ao lado aberta e pronta outra bolsa rica? Então mais simples teria sido dizer-lhe: «eu sou livre, gosto de ti, toma-me livremente, como eu me dou.» Não! Havia ali alguma coisa secreta, tortuosa, impenetrável... O que daria por a conhecer!
E então pouco a pouco foi surgindo nele o desejo de ir aos Olivais... Sim, não lhe bastaria desforrar-se arrogantemente, atirando-lhe ao regaço um cheque embrulhado numa insolência! O que precisava, para sua plena tranquilidade, era arrancar do fundo daquela turva alma o segredo daquela torpe farsa... Só isso amansaria o seu incomparável tormento. Queria entrar outra vez na toca, ver como era aquela outra mulher que se chamava Mac-Gren, e ouvir as suas palavras. Oh! iria sem violência, sem recriminações, muito calmo, sorrindo! Só para que ela lhe dissesse qual fora a razão daquela mentira tão laboriosa, tão vã... Só para lhe perguntar serenamente: «Minha rica senhora para quer foi toda esta intrujice?»