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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 429

- Bem, adeus! disse Carlos procurando atarantadamente um par de luvas.

- Não jantas?

- Não.

Daí a pouco rodava pela estrada dos Olivais. Já se acendera o gaz. E inquieto, no estreito assento, acendendo nervosamente cigaretes que não fumava, sofria já a perturbação daquele encontro difícil e doloroso... Nem sabia mesmo como a havia de tratar, se por «minha senhora», se por «minha boa amiga», com uma superior indiferença. E ao mesmo tempo sentia por ela uma compaixão indefinida, que o amolecia. Diante destes seus modos regelados, via-a já toda pálida, a tremer, com os olhos cheios d'agua. E estas lágrimas que apetecera, agora que estava tão perto de as ver correr, enchiam-no só de comoção e de dó... Durante um momento mesmo pensou em retroceder. Por fim seria muito mais digno escrever-lhe duas linhas altivas, sacudindo-a de si para sempre e secamente! Poderia não lhe mandar o cheque, - afronta brutal de homem rico. Apesar de embusteira era mulher, cheia de nervos, cheia de fantasia, e amara-o talvez com desinteresse... Mas uma carta era mais digno. E agora acudiam-lhe as palavras que lhe deveria ter dirigido, incisivas e precisas. Sim, devia-lhe ter dito - que se estava pronto a dar a sua vida a uma mulher que se lhe abandonara por paixão, estava decidido a não sacrificar nem os seus vagares a uma mulher que lhe cedera por profissão. Era mais simples, era terminante... E depois não a via, não teria de suportar a tortura das explicações e das lágrimas.

Então veio-lhe uma fraqueza. Bateu nos vidros para fazer parar, reflectir um instante, mais calmamente, no silêncio das rodas. O cocheiro não ouviu: o trote largo da parelha continuou batendo a estrada escura. E Carlos deixou seguir, outra vez hesitante. Depois, á maneira que reconhecia, esbatidos na sombra, aqueles sítios onde tantas vezes passara com o coração em festa, quando a sua paixão estava em flor, uma cólera nova voltava - menos contra a pessoa de Maria Eduarda, que contra essa mentira que fora obra dela, e que vinha estragar irremediavelmente o encanto divino da sua vida.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 429

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605