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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 430
Era essa mentira que agora odiava - vendo-a como uma coisa material e tangível, de um peso enorme, feia e cor de ferro, esmagando-lhe o coração. Oh! Se não fosse essa coisa pequenina e inolvidável que estava entre eles, como um indestrutível bloco de granito, poderia abrir-lhe novamente os seus braços, senão com a mesma crença pelo menos com o mesmo ardor! Esposa do outro ou amante do outro - no fim que importava? Não era por faltar aos beijos que lhe dera esse a consagração de um padre, rosnada em latim - que a sua pele estava mais poluida por eles, ou tinha a menos frescura? Mas havia a mentira, a mentira inicial, dita no primeiro dia em que fora à rua de S. Francisco, e que como um fermento podre ficava estragando tudo daí por diante, doces conversas, silêncios, passeios, sestas no calor da quinta, murmúrios de beijos morrendo entre os cortinados cor de ouro... Tudo manchado, tudo contaminado por aquela mentira primeira que ela dissera sorrindo, com os seus tranquilos olhos límpidos...

Abafava. Ia a descer a vidraça que faltava a correia - quando a tipoia parou de repente, na estrada solitária... Abriu a portinhola. Uma mulher com um chale pela cabeça falava ao cocheiro.

- Melanie!

- Ah, monsieur!

Carlos saltou precipitadamente. Era já próximo da quinta, na volta de estrada, onde o muro fazia um recanto sob uma faia, defronte de sebes de piteiras resguardando campos de olivedo. Carlos gritou ao cocheiro que seguisse e esperasse no portão da quinta. E ficou ali, no escuro, com Melanie encolhida no seu chale.

Que estava ela ali a fazer? Melanie parecia transtornada: contou que vinha procurar à vila uma carruagem, porque a senhora queria ir a Lisboa, ao Ramalhete... Ela julgara a tipoia vazia.

E apertava as mãos, dando as graças, com um imenso alivio. Ah! que felicidade, que felicidade ter ele vindo!... A senhora estava aflita, nem jantara, perdida de choro. O Sr. Castro Gomes aparecera lá inesperadamente... A senhora, coitadinha, queria morrer!

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pág. 430 (Capítulo 14)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 430

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605