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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 433

A rapariga correu. E ele, caminhando devagar sob as acácias, sentia no sombrio silêncio as pancadas desordenadas do seu coração. Subiu os três degraus de pedra - que lhe pareciam já de uma casa estranha. Dentro, o corredor estava deserto, com a sua lâmpada mourisca alumiando as panóplias de touros... Ali ficou. Melanie, com o chale na mão, veio dizer-lhe que a senhora estava na sala das tapeçarias...

Carlos entrou.

Lá estava, ainda de capa, esperando de pé, pálida, com toda a alma concentrada nos olhos que refulgiam entre as lágrimas. E correu para ele, arrebatou-lhe as mãos, sem poder falar, soluçando, tremendo toda.

Na sua terrível perturbação, Carlos achava só esta palavra, melancolicamente estúpida:

- Não sei porque chora, não sei, não há razão para chorar...

Ela pôde enfim balbuciar:

- Escuta-me, pelo amor de Deus! não digas nada, deixa contar-te... Eu ia lá, tinha mandado Melanie por uma carruagem. Ia ver-te... Nunca tive a coragem de te dizer! Fiz mal, foi horrível... Mas escuta, não digas nada ainda, perdoa, que eu não tenho culpa!

De novo os soluços a sufocaram. E caiu ao canto do sofá, num choro brusco e nervoso, que a sacudiu toda, lhe fazia rolar sobre os ombros os cabelos mal atados.

Carlos ficara diante dela, imóvel. O seu coração parecia parado de surpresa e de duvida, sem força para desafogar. Apenas agora sentia quanto baixo e brutal deixar-lhe o cheque - que tinha ali na carteira e que o enchia de vergonha... Ela ergueu o rosto, todo molhado, murmurou com um grande esforço:

- Escuta-me!... Nem sei como hei de dizer... Oh, são tantas coisas, são tantas coisas!... Tu não te vais já embora, senta-te, escuta...

Carlos puxou uma cadeira, lentamente.

- Não, aqui ao pé de mim... Para eu ter mais coragem... Por quem és, tem pena, faz-me isso!

Ele cedeu à suplicação humilde e enternecedora dos seus olhos arrasados de água: e sentou-se ao outro canto do sofá, afastado dela, numa desconsolação infinita. Então, muito baixo, enrouquecida pelo choro, sem o olhar, e como num confessionário – Maria começou a falar do seu passado, desmanchadamente, hesitando, balbuciando, entre grandes soluços que a afogavam, e pudores amargos que lhe faziam enterrar nas mãos a face aflita.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 433

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605