A rapariga correu. E ele, caminhando devagar sob as acácias, sentia no sombrio silêncio as pancadas desordenadas do seu coração. Subiu os três degraus de pedra - que lhe pareciam já de uma casa estranha. Dentro, o corredor estava deserto, com a sua lâmpada mourisca alumiando as panóplias de touros... Ali ficou. Melanie, com o chale na mão, veio dizer-lhe que a senhora estava na sala das tapeçarias...
Carlos entrou.
Lá estava, ainda de capa, esperando de pé, pálida, com toda a alma concentrada nos olhos que refulgiam entre as lágrimas. E correu para ele, arrebatou-lhe as mãos, sem poder falar, soluçando, tremendo toda.
Na sua terrível perturbação, Carlos achava só esta palavra, melancolicamente estúpida:
- Não sei porque chora, não sei, não há razão para chorar...
Ela pôde enfim balbuciar:
- Escuta-me, pelo amor de Deus! não digas nada, deixa contar-te... Eu ia lá, tinha mandado Melanie por uma carruagem. Ia ver-te... Nunca tive a coragem de te dizer! Fiz mal, foi horrível... Mas escuta, não digas nada ainda, perdoa, que eu não tenho culpa!
De novo os soluços a sufocaram. E caiu ao canto do sofá, num choro brusco e nervoso, que a sacudiu toda, lhe fazia rolar sobre os ombros os cabelos mal atados.
Carlos ficara diante dela, imóvel. O seu coração parecia parado de surpresa e de duvida, sem força para desafogar. Apenas agora sentia quanto baixo e brutal deixar-lhe o cheque - que tinha ali na carteira e que o enchia de vergonha... Ela ergueu o rosto, todo molhado, murmurou com um grande esforço:
- Escuta-me!... Nem sei como hei de dizer... Oh, são tantas coisas, são tantas coisas!... Tu não te vais já embora, senta-te, escuta...
Carlos puxou uma cadeira, lentamente.
- Não, aqui ao pé de mim... Para eu ter mais coragem... Por quem és, tem pena, faz-me isso!
Ele cedeu à suplicação humilde e enternecedora dos seus olhos arrasados de água: e sentou-se ao outro canto do sofá, afastado dela, numa desconsolação infinita. Então, muito baixo, enrouquecida pelo choro, sem o olhar, e como num confessionário – Maria começou a falar do seu passado, desmanchadamente, hesitando, balbuciando, entre grandes soluços que a afogavam, e pudores amargos que lhe faziam enterrar nas mãos a face aflita.