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Capítulo 15: Capítulo 15

Página 440
Os olhos da pequena encheram-se de surpresa e de riso:

- O quê! estar sempre, sempre aqui, mesmo de noite, toda a noite?... E ter aqui as suas malas, as suas coisas?...

Ambos murmuraram - «sim».

Rosa então pulou, bateu as palmas, radiante, querendo que Carlos fosse já, já, buscar as suas malas e as suas coisas...

- Escuta, disse-lhe ainda Maria gravemente, retendo-a sobre os joelhos. E gostavas que ele fosse como o papá, e que andasse sempre connosco, e que lhe obedecêssemos ambas, e que gostássemos muito dele ?

Rosa ergueu para a mãe uma facezinha compenetrada, onde todo o sorriso se apagara.

- Mas eu não posso gostar mais dele do que gosto!...

Ambos a beijaram, num enternecimento que lhes humedecia os olhos. E Maria Eduarda, pela primeira vez diante de Rosa debruçando-se sobre ela, beijou de leve a testa de Carlos. A pequena ficou pasmada para o seu amigo, depois para a mãe. E pareceu compreender tudo; escorregou dos joelhos de Maria, veio encostar-se a Carlos com uma meiguice humilde:

- Queres que te chame papá, só a ti?

- Só a mim, disse ele, fechando-a toda nos braços.

E assim obtiveram o consentimento de Rosa que fugiu, atirando a porta, com as mãos cheias de bolos para os pardais.

Carlos levantou-se, tomou a cabeça de Maria entre as mãos, e contemplando-a profundamente, até à alma, murmurou num enlevo:

- És perfeita!

Ela desprendeu-se, com melancolia, daquela adoração que a perturbava.

- Escuta... Tenho ainda muito, muito que te dizer, infelizmente. Vamos para o nosso quiosque... Tu não tens nada que fazer, não? E que tenhas, hoje és meu... Vou já ter contigo. Leva as tuas cigaretes.

Nos degraus do jardim, Carlos parou a olhar, a sentir a doçura velada do céu cinzento... E a vida pareceu-lhe adorável, de uma poesia fina e triste, assim envolta naquela névoa macia onde nada resplandecia e nada cantava, e que tão favorável era para que dois corações, desinteressados do mundo e em desarmonia com ele, se abandonassem juntos ao contínuo encanto de estremecerem juntos na mudez e na sombra.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 440

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605