Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 453 / 630

Carlos torcia o bigode, mudo, enterrado no fundo da vitória. Nunca, nesses dias de inquietação, lhe acudira ideia tão sensata, tão fácil! Sim, era isso, esperar! Que melhor dever do que poupar ao pobre avô toda a dor?... Maria decerto, como mulher, estava desejando ansiosamente a conversão do amante no marido pelo laço de estola que tudo purifica e nenhuma força desata. Mas ela mesma preferiria uma consagração legal - que não fosse assim precipitada, dissimulada... Depois, tão recta e generosa, compreenderia bem a obrigação suprema de não mortificar aquele santo velho. De resto, não conhecia ela a sua lealdade solida e pura como um diamante? Recebera a sua palavra: desde esse momento estavam casados, não diante do sacrário e nos registos da sacristia – mas diante da honra e na inabalável comunhão dos seus corações...

- Tens razão! gritou por fim, batendo no joelho do Ega. Tens imensamente razão! Essa ideia é genial! Devo esperar... E enquanto espero?...

- Como, enquanto esperas? acudiu Ega, rindo. Que diabo! Isso não é comigo!

E mais sério:

- Enquanto esperas tens esse metal vil que faz a existência nobre. Instalas tua mulher, porque desde hoje é tua mulher, aqui nos Olivais ou noutro sítio, com o gosto, o conforto e a dignidade que competem a tua mulher... E deixas-te ir! Nada impede que façais essa viagem nupcial à Itália... Voltas, continuas a fumar a tua cigarete e a deixar-te ir. Este é o bom senso: é assim que pensaria o grande Sancho Pansa... Que diabo tens tu naquele embrulho que cheira tão bem?

- Um ananás... Pois é isso, querido: esperar, deixar-me ir. É uma ideia!

Uma ideia! e a mais grata ao temperamento de Carlos. Para que iria com efeito enredar-se numa meada de amarguras domesticas, por um excesso de cavalheirismo romântico? Maria confiava nele; era rico, era moço; o mundo abria-se ante eles fácil e cheio de indulgências. Não tinha senão a deixar-se ir.

- Tens razão, Ega ! E Maria é a primeira a achar isto cheio de senso e de oportunismo. Eu tenho uma certa pena em adiar a instalação da minha vida e do meu homem. Mas, acabou-se! Antes de tudo que o avô seja feliz...





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